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Por que a população não foi às ruas no último dia 2. Por Patrícia Valim

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Patricia_Valim

Um dos grandes buracos dos governos petistas foi o setor de comunicação. Por razões óbvias, sempre achei um acinte a Helena Chagas ser a ministra chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República no Dilma I, 2011-2014. Hoje, essa senhora soltou um texto que certamente a colocará em um lugar de destaque na competição pelo prêmio de maior capacidade especulativa do golpismo.

O argumento (sic) para a população, os sindicatos e as centrais não terem organizado uma greve geral e ocupado as ruas do país no ultimo dia 02/08 é a existência de “uma subterrânea e impronunciável aliança entre Lula e Temer […] em torno da aprovação de projetos para atenuar os efeitos da Lava Jato sobre seus acusados […], aprovando um dispositivo estendendo o foro privilegiado do STF aos ex-presidentes”. Pausa.

Duas coisas que Lula faz como poucos: política e cálculo político, de maneira que essa possibilidade está completamente fora de questão. Mas ao cogitar e publicar a especulação, essa senhora se junta à quinta coluna da guache nem-nem/tristes trópicos que continua afirmando que o PT e sua bancada de parlamentares fizeram “corpo mole” na votação que afastaria o golpista do poder por crime de corrupção passiva porque interessa ao partido se afastar do desgaste da votação das reformas golpistas, mesmo com todos os fatos comprovando o contrário.

Meu ponto é que esse tipo de especulação tenta encobrir algo que é gritante desse grupo: o completo desprezo pela classe trabalhadora e pela cultura política dos trabalhadores sindicalizados. De 2013 até ontem, esse grupo passou dias e noites desqualificando e tentando esvaziar as manifestações organizadas, puxadas e protagonizadas pelas centrais sindicais.

Depois da última greve geral com quase 40 milhões de pessoas nas ruas, eles estão eufóricos cobrando e exigindo (!) a organização de uma greve geral pelas centrais sindicais. O que explica essa mudança não é o reconhecimento da capacidade de mobilização da classe trabalhadora nessa quadra golpista, mas a criminalização dela. Com a última greve, o golpista e o golpismo têm usado seu braço armado para cegar estudantes com bala de borracha, atemorizar a população nas ruas com sua polícia genocida, impor multas altíssimas diárias aos sindicatos e punir e descontar o ponto dos trabalhadores grevistas.

Safatle escreveu hoje na Folha de SP que “boa parte das pessoas não sai às ruas porque elas têm medo da violência do Estado, já que elas tacitamente sabem que não têm mais garantias alguma de integridade”. A população está exasperada. Jogar nas costas da classe trabalhadora e das centrais sindicais – os mais afetados pelas reformas golpistas -, o ônus de uma greve para derrubar o golpismo enquanto essa turma segue sem ter a vida afetada pelo golpe e pelas reformas golpistas: não é nova política e nem-nem especulação isenta.

É perversidade. É, sobretudo, projeto de criminalização do PT, do exercício político da classe trabalhadora e disputa pelo protagonismo político dessa turma que tem a solução para os nossos problemas. É legítimo que esse tipo de projeto exista, mas seria mais honesto e digno que ele fosse explicitado.

Patrícia Valim é professora na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – UFBA

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