“Axe – Canto do um povo de um lugar”. Por Luis Pereira
[Assisti] ao filme “Axe – Canto do um povo de um lugar”. O tema é muito rico, mas o roteiro é muito fraco. Tem tantas questões, abordagens e pessoas que foram esquecidas, que me deu a impressão de ser um filme preguiçoso.
Desde o início; entrevistaram Nestor Madri, Bocha Cabalero, Ramiro Mussoto e não deram uma linha ao fato curioso de que o Axe Músic foi inventado (também) por Argentinos.
Nos transcorrer do filme, com o passar dos anos, é nitidamente visível a mudança do público e principalmente, do branqueamento dele.
Ignoraram, dentre outras coisas, o fato de que no início dos anos noventa, os blocos começaram a exigir, para a venda dos seus abadás, foto e comprovante de residência. Daí havia uma triagem para só permitir pessoas “bonitas” e dos bairros “nobres”. Conheci casos -algum deles até noticiado em Jornal da época – de pessoas pretas de bairro pobres que, mesmo com o pagamento a vista e em espécie, não conseguiam comprar o acesso. O apartheid foi esquecido também.
Filme sobre Axé-music que não fala dos cordeiros? Que não fala da estratificação sem replantio. Do rolo compressor que passou por cima de todas as outras expressões musicais e culturais por duas décadas na Bahia?
Todo mundo aparece de bom moço. A única vez em que o filme chega perto de uma das feridas, é quando dono do bloco “Cheiro de Amor” disse que pagou pra rádios não tocarem outros artistas e que agora “se arrepende”. Parecendo que foi uma única só vez, que ele tenha sido o único a fazer esta pratica e que isto tenha acabado ha anos distantes…
Não foi citado o fato que o trio eletrico Dodo e Osmar, Moraes Moreira e tantos outros ficaram, por anos, impedidos de se apresentar no carnaval de Salvador por conta do esquemão dos empresários do Axé-Music. (“se o caminhão virou, deixa virar”)
Entrevistada, Ivete diz que não sentiu “forças contra” na sua saída da banda Eva para a carreira solo. Acho que ela falou a verdade, pois os Sangalos são inteligentes, e foram se aliar na época a Xuxa e Marlene Matos, criando uma blindagem máxima a prova de qualquer “mal olhado”.
Senti falta também do depoimento de mais compositores responsáveis por grandes sucessos do genero. O filme cansa na roda de depoimento das mesmas pessoas.
Enfim, o “Axé- Canto do povo de um lugar” me pareceu uma longa peça publicitária da Bahiatursa. Perderam a chance de fazer um grande filme e entrar para história.
Mas vale a pena assisti-lo.
Lembra quando você ia ao shopping Barra ver as fotos do carnaval que passou? É mais ou menos por ai.
(“requebra sim, pode falar, pode rir de mim”)