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Resistir e continuar avançando. Por Fernando Horta

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Fernando_Horta

Sou privilegiado porque, por sorte, meu objeto de estudo é exatamente a o início da Guerra Fria. Estudo como se formou o século XX que perdura até hoje. Tudo o que estudo e vi acontecer entre 45-60 está acontecendo de novo. Mas sabemos que a “História NÃO se repete”.

 

Simplesmente porque quem dá racionalidade e razão a História é o homem do presente, portanto, não há como um ente inumano ter vontade de “repetir-se”. 
Assim, quando algo acontece “repetido” na História, duas coisas imediatamente surgem para o historiador: (1) temos poucas informações sobre os acontecimentos e estamos emprestando a eles a ideia da “igualdade ou semelhança”. No fundo achamos que se repete por pura ignorância. Ou (2) há uma força externa que compreende o mundo de uma determinada forma, e lhe imprime determinadas soluções a partir de seus valores. 
O primeiro ponto podemos minorar com pesquisa e conhecimento, o segundo é o centro da minha pesquisa.
Daí surge a pergunta, o quê hoje existe e faz acontecer determinados fatos no mesmo sentido do que ocorria no início do século XX?
Getúlio, JK, Jango e Lula todos são acusados de corrupção e violentados pelas instituições brasileiras.
“A história se repete a esquerda é corrupta” é o discurso dos reacionários hoje. E se enquadra exatamente no primeiro exemplo. Falta-lhes conhecimento para, já de início, reconhecer que Getúlio, JK e mesmo Jango não eram “esquerda” como conhecemos hoje. Jango é o que mais se aproxima, mas mesmo o trabalhismo (que hoje é personificado pelo PDT e PTB) é uma filosofia social que nem é reformista, nem é revolucionária. O objetivo é manter o capital e o capitalismo e “ajudar” aos trabalhadores a viver melhor. Com todo histrionismo, Brizola nunca pensou em revolucionar coisa alguma, mas melhorar a vida de quem trabalha através de melhores salários, creches, escolas, leis trabalhistas e etc. Isto não é pouco, mas também não tem nada de grande mudança. Lula tampouco foi revolcionário, mas me parece ter um conteúdo reformista maior do que os anteriores. Lula foi a mudança que a sociedade brasileira permitiu ser. Algo mais agressivo, igualitário, revolucionário em termos de sociedade teria morrido na casca. 
Hoje, é fácil dizer como Lula (e Dilma, em certa medida) DEVERIAM TER AGIDO. Num esforço desonesto de julgamento do passado tendo conhecimento do futuro.
Na época, poucos foram os que criticaram e quase ninguém se propôs a assumir o peso político de grandes mudanças.
Contudo, ainda temos que explicar “por que as coisas se repetem”, e precisamos fazer isto não aceitando o erro de que “a história se repete” ou que a “esquerda é corrupta”, já que ambas as afirmações estão erradas empiricamente.
Sobra refazermos a pergunta: Que forças, agentes, ideias, princípios estavam presentes desde Getúlio até Lula que imprimiram uma caça ao pouco de inclusão (e não revolução) que estes líderes fizeram?
Por óbvio que é preciso reconhecer que não podem ser “pessoas” que fazem isto, na medida em que o lapso de tempo é significativo. Sobram grupos sociais e ideias. Alguns culpam os EUA, outros o capitalismo, outros nossas elites, alguns a ideia de “escravidão” … mas todos concordam que devem existir condicionantes que perpassam estes momentos e conferem-lhe alguma similaridade em termos de ações e resultados.
Qualquer que seja a resposta, a solução do problema se torna problemática. Não há como acabar com o “capitalismo”, matar as elites ou invadir os EUA e forçar a que não se envolvam. 
Isto não quer dizer que estamos fadados à derrota, mas faz lembrar a forma como Marx e Lênin resolveram o problema. É por meio da organização de grupos coesos, luta diária contra os micro-poderes, mudança de ideias e, principalmente, lutar pela “consciência de classe”. 
Que o primeiro de maio comece este processo. 
Somos todos proletários.
Estamos no ponto mais bruto da luta de classes.
Nosso adversário são nossas elites.
Resistir e continuar avançando.
Ainda que sob chuva, tiros ou caras feias. O que precisa nos sorrir é o futuro.

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