Tenho uma lembrança dos tempos de menino. Por Tato Lemos
Tenho uma lembrança dos tempos de menino em Itapetinga, e lembro dos amigos Ortiz e Zé Antonio, que eram filhos do sr Rosalvo Cipriano um encanador aposentado, mas um devorador dos livros. Um homem engajado politicamente, mesmo em nossa cidade considerada a capital da pecuária, onde um bezerro tinha mais valor que qualquer ser humano.
Os coronéis eram os donos da cidade, onde um pequeno grupo era contra e a grande maioria eternos puxa sacos dos homens que tinham dinheiro e poder.
Um dia o amigo me convidou para almoçar na casa dele, e na mesa éramos seis pessoas, e na cabeceira da mesa um prato e talheres a espera de um irmão que tinha desaparecido..
Terminamos o almoço fiquei sabendo que aquele prato na mesa, estava a espera do jovem Rosalindo de Souza, irmão dos meus amigos.
A ditadura perseguia,ao ponto que foi impedido, após o AI-5, arbitrariamente de se matricular na UFBA no 4º ano da Faculdade. E assim teve que ir para o Rio de Janeiro onde concluiu o curso de direito na Faculdade Cândido Mendes.
Retornando a Bahia, onde passou a advogar. Nessa mesma época foi denunciado pela Auditoria Militar e condenado à revelia a 2 anos e 2 meses de reclusão. Passou a viver na clandestinidade, indo para a região de Caianos no Araguaia, onde foi morto pelos perseguidores da ditadura. A mãe dona Lindaura colocou o prato naquela mesa enquanto estava viva, acreditando que o filho poderia entrar em casa a qualquer momento. Os pais morreram anos depois, sem saber do paradeiro do filho. Esse é um pequeno relato do que representou a ditadura militar, que não aceitava seres pensantes que lutavam por uma sociedade mais justa.
Só depois de muitos anos, que ficamos sabendo local de morte/desaparecimento, e a data do recolhimento da documentação física para arquivo Nacional.
E ainda tem um monte de desinformados da direita, que não conhecem ou ignoram uma triste e vergonhosa história Brasileira. Não são poucos que entram aqui, para dizer acorda Tato Lemos. Uma linguagem muito natural dos senhores da casa grande, que se achavam donos da razão.
” Uma mãe colocar um prato na mesa, para um filho que nunca mais vai voltar, saberás a diferença da ditadura para uma democracia.”