Vencido o golpe, resta a lição: fazer política. Por Miguel do Rosário
O balanço do estrago. No final da tarde, quando a passeata terminar e a besta, as panelas e o ódio forem recolhidos, começará o duro reencontro do país consigo mesmo.
Jornais e TVs deixarão de recriar o clima de fim de mundo. Ontem, aliás, após ajudar a desmontar setores com centenas de milhares de empregos, o Jornal Nacional resolveu recriar a esperança, em cima do micro-exemplo de uma micro-empreendedora que criou um negócio com um funcionário e agora já tem três.
É o milagre da hipocrisia de massa.
Com o ódio refluindo, a Lava Jato ainda terá tempo de provar se é um poder autônomo ou um poder autorizado pela mídia. A prova do pudim será José Serra.
A esquerda terá que se reinventar. Os que ainda alimentam a utopia de que a economia de mercado não é irreversível se abrigarão em partidos menores. O PT – e Lula – terão o enorme desafio de se reinventar, mais facilmente Lula, mais dificilmente o PT.
Em 2018 é mais provável ter-se um Lulismo – na forma de frente ampla – substituindo o PT, cuja expressão final é a cara insípida, inodora e sem emoção de seu presidente Rui Falcão. Os movimentos sociais, que amam e continuarão amando Lula, encontrarão abrigo nessa frente ampla, social-democrata. Os que ainda acreditam na utopia socialista, irão para partidos menores.
No outro extremo, o ódio da direita será a última herança de Aécio Neves. Aécio é tão tolo e despreparado que ainda não entendeu que o que acreditava ser a tomada da Bastilha era apenas a última passeata da Ilha Fiscal. Terminará recluso em algum castelo encantado de Linchenstein, cercado por um convescote de sábios, dentre os quais de destacarão Ronaldo Caiado, Aloyzio Nunes, Carlos Sampaio, e no qual as ideias serão proibidas de entrar (coloquei Nunes de sacanagem: ele, como um pitbull esperto, está tão louco para pular do barco que até conseguiu conter a fala raivosa).
Daqui até 2018 Dilma Rousseff terá tempo para governar.
Obviamente, esse romance foi escrito em cima dos personagens atuais. Há muita água e lama a rolar até 2018. Tentar adivinhar é um desafio que nenhuma ficção ousará enfrentar.
Artigo publicado em http://www.ocafezinho.com/2015/08/16/vencido-o-golpe-resta-a-licao-fazer-politica/