O espetáculo teatral Quaderna, O Encantado é baseado nos fatos históricos ocorridos no Sertão de Pernambuco que resultou no massacre de mais de cinquenta fiéis ligados a um líder messiânico. 

Durante três anos, de 1835 a 1838, uma comunidade com cerca de mil pessoas se estabeleceu próximo às pedras de 30 e 33 metros de altura no sertão de Pernambuco. As crenças eram baseadas no sebastianismo, pregada pelo jovem João Ferreira, auto-denominado Dom João II, O Execrável, que dizia que o mitológico rei português (morto no século 16 em batalha contra os mouros) desencantaria ali naquelas pedras encantadas que lembravam torres de um castelo. A espera terminou com o massacre da Pedra Bonita, em que 53 pessoas e 14 cães morreram em sacrifício, entre os dias 14 e 16 de maio de 1838.

O sertanejo liderou um grupo de fanáticos religiosos que acreditavam no aparecimento, em pleno sertão, do Reino Encantado de Dom Sebastião, revivendo, assim, a lenda lusitana do rei que retornaria para restaurar a soberania do Império português e livrar o povo das mazelas. Dom Sebastião foi o Rei português morto em 1578 quando, aos 24 anos, se joga numa Cruzada, rumo ao Marrocos, na tentativa de converter mouros em cristãos, desaparece na batalha de Alcácer Quibir e seu corpo nunca fora encontrado. Como consequência, Portugal, anos depois, passa para as mãos espanholas. Cresce em terras lusas o sonho de que Dom Sebastião um dia retorne para restaurar o Império Português. Então, o mito se estabelece, espalhando-se para as colônias lusitanas.

No Brasil, o mito sebastianista prometia que o Rei finalmente voltaria do deserto instalando aos pés da Pedra Bonita – nome primitivo da Pedra do Reino – um Reino Encantado, distribuiria riqueza e terras, enriqueceria os pobres e libertaria os negros da escravidão. O sangue dos fiéis derramado nas Pedras, pregava o líder dos sebastianistas, abriria caminho para o "desencantamento" do Rei.

A peça acontece em forma de monólogo, na qual o protagonista Felipe Ferreira Quaderna se apresenta com parente do João Ferreira, líder responsável pelo massacre e herdeiro da Coroa do Reinado do Sertão do Brasil. A dramaturgia foi criada a partir da coleta de informações sobre o ocorrido presente em obras da literatura brasileira (A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna; Pedra Bonita, de José Lins do Rego), notícias de jornais da época e relatos de historiadores.

O personagem mostra a formação epopeica de sua árvore genealógica, de reis e príncipes, que sempre buscou a melhoria de vida dos mais pobres através da ressurreição do Dom Sebastião. O relato é costurado por elementos sonoros e visuais do universo sertanejo: lamentos, súplicas, cantos, louvores, prosas, poesias, cantos e sons armoriais, vozes lamúrias, aboios, sons de chocalhos, apitos, etc.