O espetáculo musical “Boca a Boca: um solo para Gregório”, com o ator baiano Ricardo Bittencourt, inicia sua turnê brasileira por Salvador a convite do Café-Teatro Rubi, Sheraton da Bahia. O recital estreia no dia 05 de maio (sexta), às 20h30, tem nova apresentação no dia 06 (sábado), no mesmo horário, e depois segue temporada todas as quintas-feiras de maio (11, 18 e 25) sempre às 20h30.
Com roteiro e direção de João Sanches, a obra busca reconhecer a importância de Gregório de Matos, o poeta baiano que é considerado, por muitos teóricos, o primeiro escritor brasileiro efetivamente nascido no Brasil, em 1636. Depois de ficar conhecido como “Boca do Inferno” e “Boca de Brasa”, pelas críticas ferozes e debochadas que fazia em suas poesias à sociedade do século XVII, Gregório foi preso e enviado para o exílio em Angola.
Conseguiu ser perdoado e voltar ao Brasil, mas com a condição de que morasse em Recife e nunca mais voltasse à Bahia, permanecendo até hoje banido de sua terra. “Queremos trazer Gregório de volta para a Bahia e mostrar o quanto ele é atual”, comenta Sanches. E ressalta: “queremos dar um solo para este grande poeta”.
Em cena, o ator Ricardo Bitencourt e um guitarrista promovem um verdadeiro recital em formato de show de rock’n roll. Entre declamações e narrações sobre a vida e obra de Gregório, a trilha sonora terá canções que vão do The Doors a Caetano Veloso, passando por Nirvana, Ramones, Novos Baianos e Gilberto Gil.
“Gregório é rock’n roll puro, pois ele tem essa atitude roqueira da contestação. Isso sem contar que é pop, por isso o repertório se vale de estrelas da MPB e do rock internacional”, explica Sanches. Para Ricardo, o espetáculo é dinâmico e apresenta o texto de Gregório como grande protagonista. “Eu sou um agente do discurso do poeta e um porta-voz de sua poesia”, explica o ator.
O roteiro apresenta um conjunto de 40 poemas, ou trechos de poemas, de Gregório de Matos, que são divididos não de forma cronológica, mas, sim, por temas, como a sátira de costumes, o sexo, a religião e a crítica ao governo. Intercalando os blocos de temas, há pequenos comentários narrativos que contextualizam e associam aquela produção literária a momentos da vida do poeta. Com agilidade e no ritmo do repertório musical, Ricardo se divide entre o narrador e as múltiplas facetas do declamador.
Já o título do espetáculo faz referência não só aos apelidos que o poeta ganhou, mas também à forma como a sua poesia foi perpetuada: no boca a boca, no cópia a cópia, uma vez que a imprensa e a editoração gráfica eram proibidas no Brasil colônia. A publicação das obras completas de Gregório de Matos só ocorreu no século XX, ou seja, quase 300 anos depois de manuscritas. Quanto à expressão “um solo para Gregório”, ela remete ao formato solo do espetáculo, que tem um único ator em ação, ao solo de guitarra, e ao pleito maior de devolver para Gregório o seu solo natal, já que ele foi proibido de pisar em terras baianas e os seus restos mortais encontram-se até hoje em Recife.
“Boca a Boca – um solo para Gregório” estreou no dia 10 de dezembro de 2015, no Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., em Lisboa. Ainda na capital portuguesa, a peça seguiu em cartaz no Teatro da Comuna, de 11 a 13 de dezembro, de onde retornou ao Brasil para preparar sua turnê nacional. |