A peça trata do universo sombrio da psique humana, a partir de temas como perversão e outras formas de distúrbios psíquicos. Em fuga de si mesmo, o personagem Homem encontra-se em uma embarcação misteriosa, na qual conhece um estranho velho que o conduz às suas memórias, confrontando-o com seu passado, em seus últimos momentos de vida. A partir deste ponto, em forma de narrativa, ação dramática e flash back, a peça retorna ao lar do Homem, mostrando sua relação com sua Mulher.
Livremente inspirado no universo literário do autor norte-americano Edgar Allan Poe (1809 - 1849), Gato-Corvo aborda temas atuais, como violência psicológica, angústia, solidão e alcoolismo. Ao mesmo tempo, homenageia este escritor fundamental para o gênero de mistério, terror e realismo fantástico na literatura e no cinema mundial. O gênero completa 210 anos em 2019, ao tempo que se passam 170 anos de falecimento de Poe, em 1849, aos 40 anos de idade.
Elenco - Com texto e encenação de Sandro Souza (Bacharel em Direção Teatral e Licenciado em Letras Vernáculas, ambos pela UFBA. Indicado ao Braskem 2015 como revelação em direção teatral), direção musical de Luciano Salvador Bahia, cenografia e figurino de Luiz Buranga, maquiagem de Lailane Dória e iluminação de Alisson de Sá, a montagem tem atuação de Evana Jeyssan (Bacharel em Interpretação Teatral pela UFBA, PRÊMIO BRASKEM DE TEATRO 2014 como Atriz Revelação) e Érico JosÉ (ator, encenador, produtor e professor doutor da Escola de Teatro da UFBA), sendo Érico também idealizador e produtor, desde 2012, do COLE - Coletivo Livre de Espetáculos.
Gato-Corvo integra o G-PEC – Grupo de Pesquisa em Encenação Contemporânea, filiado ao CNPq, e liderado também por Érico que, desde 2006, atua no âmbito da pesquisa e extensão na área das Artes Cênicas, em forma de pesquisas teóricas, montagem de espetáculos, publicação de artigos e eventos artísticos-acadêmicos, como colóquios, seminários, etc.
Érico realça que Poe é considerado pela crítica literária como "o pai do terror moderno" e criador do gênero policial. “Suas obras, inúmeras vezes adaptadas para o cinema, pouco foram transpostas aos palcos teatrais soteropolitanos, por isso esse projeto é tão necessário, ao promover o diálogo entre literatura e teatro, propiciando meios de difusão e experimentações artísticas diversas”, diz ele.
Dramaturgia inédita – Em Gato-Corvo, os contos de Poe funcionam como base para a construção de uma dramaturgia inédita. A partir de vivências laboratoriais e experimentações, busca-se transmitir na encenação recursos verbais, imagéticos e sensoriais do contato com essas obras. No palco, o que se tem é um enredo que se construiu no decorrer dos ensaios, na fluidez dos acontecimentos, revelando-se, ao final, orgânico e expressivo ao deleite do público, em forma de espetáculo teatral.
Vale realçar que, na maioria dos contos de Allan Poe, o ponto de vista de um narrador-personagem desafia o leitor a posicionar-se entre o real e o sobrenatural dos fatos contados. Loucura e lucidez se equilibram esbarrando-se em tramas cheias de lacunas, revelando o caráter polissêmico da obra e estimulando o senso investigativo do espectador, concedendo-lhe a oportunidade de buscar sentidos a partir de suas próprias percepções. |