Dramaturgo, performer, diretor e cenógrafo, entre outros atributos, Paulo Paiva comemora 40 anos de carreira artística com o lançamento do monólogo “Idajo” (pronuncia-se “Idajô”, em Iorubá), que estreia no Espaço Cultural Barroquinha na sexta-feira (7 de dezembro), às 19h.
Em uma época na qual a Justiça brasileira encontra-se no olho do furação e é posta à prova, a cada dia, Paiva escreveu, vai encenar e interpretar um monólogo que discute justamente os princípios da inocência a partir de uma tragédia que faz refletir: em uma Bahia pós-apocalíptica e funcionando como Estado autônomo da Federação, cinco homens são soterrados e, para que possam sobreviver até à chegada do resgate, um deles terá que ser sacrificado e servir de alimento para os demais, a partir de um sorteio.
Uma vez resgatados, 32 dias depois, os quatro sobreviventes são acusados de canibalismo e homicídio e vão a julgamento, sendo condenados à forca. No entanto, recorrem à Corte do presidente-ministro da Casa de Xangô, representada pelos orixás Ossanha, Oxumaré, Nanã e Oxum.
Dá-se, então, um complexo e instigante embate entre os orixás, cada qual com uma posição diversa e, naturalmente, seguindo as inclinações dos saberes jurídicos. Para tanto, o encenador utilizou-se como matriz para construir a sua obra pastiche os conceitos do professor Lon L. Fuller, ligado à escola de Harvard e autor do aclamado “O Caso dos Exploradores de Caverna” (1949), leitura obrigatória para estudantes de Direito.
“Trata-se de um embate entre os diferentes pontos de vista dos quatro juízes representantes de diversas correntes, num interessante exercício de argumentação calcado na defesa do direito natural, principalmente por parte do juiz da Casa de Ossanha, ligado ao positivismo estrito. Por sua vez, a juíza da Casa de Nanã, é ‘kelseniana’, enquanto a magistrada da casa de Oxum tem uma visão moderada, além do non liquet representado pelo juiz da Casa de Oxumaré”, explica Paiva.
Espetáculo anárquico e multimídia que promete muitas surpresas, sem falar da riqueza dos figurinos e das máscaras, os espectadores assistem o julgamento por via da televisão estatal, a TV Idajo, que em Ioruba significa "Justiça". Realizado sem editais, o espetáculo se utiliza de materiais reciclados e, depois da temporada no Espaço Cultural Barroquinha, será apresentado em escolas de direito de todo Brasil.
Formado em Artes Cênicas pela Ufba, Paulo Paiva desenvolveu trabalhos e colaborou com diversas instituições, entre elas a Companhia de Teatro da Ufba, o Teatro Castro Alves e o Goethe Institut. Encenou e interpretou espetáculos ligados à Commedia del Arte ( “Arlequim, servidor de dois patrões” e “La Serva Padronna”) , ao Teatro de Máscara ( “Arlequim, Servidor de dois Patrões”, “La Serva Padronna”, “Hard Time”), à Ópera (“La Serva Padronna”),ao Teatro do Absurdo (“Hard Time”, “Atos sem Parábolas”, “Uma Farsa Áspera”. ), ao Realismo Fantástico (“A Balsa dos Mortos”), ao Realismo Alemão (“ Quase um Hamlet) e, também, atuou em adaptações de clássicos da literatura como “Elogio a Loucura” e “Acará, o Pão da Sedução” (“A Mandrágora”), montados também em Portugal e Angola.
Idajo
Direção, interpretação, figurino, cenário e elementos de cenário: Paulo Paiva
Assistência de direção: Humberto Dias
Assistência de palco: Horrana Matos
Vídeomaker. "A Navalha": Tiago Jatobá Vídeomaker "A Papisa": Iuri Silva
PowerPoint man: Iuri Silva
Dubladores: "Papisa", "Editora Idajo" e "Associação dos Ateus": Irema Santos.
Dublador Saudações dos orixás: Horrana Fiuza
Dublador "Canibalismo na Bíblia": Humberto Dias.
Coral convidado para a estreia Maria Música, regente Ailton Santos
Banaha - música folclórica Congolesa
Siyahamba - tradicional Zulu
Músicas : Aiê, ntootô, nilé - autor/arranjador: Sérgio Souto Kokoleoko - música popular Africana
GRUPO VOCAL FEMININO MARIA MÚSICA Humberto: Cantoras e naipes:
Rita Braz - soprano Nazaré - soprano
Ana Maria - mezzo
Suzana - mezzo
Luz Divina – contralto |