Apenas na primeira semana de 2019, a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) de Brotas e de Periperi receberam 175 mulheres registros de agressão. Este dado e outras situações de violência contra à mulher – muitas delas estupradas, espancadas e mortas – estão estampadas nas manchetes dos jornais.
Este é o cerne de Sobejo, solo com a atriz Eddy Veríssimo, indicada em 2016 ao Prêmio Braskem de Teatro, na categoria melhor atriz. A peça, escrita e dirigida pelo ator, dramaturgo, diretor, figurinista, e também integrante d’A Outra Companhia de Teatro, Luiz Buranga, será apresentada na Casa d’A Outra, dias 15, 22 e 29 de março, às 20h.
Sobejo retrata a biografia fictícia da personagem Georgina Serrat, uma dona de casa que depositou a fé e felicidade no casamento e tem seus sonhos frustrados pelas agressões do marido. Num misto de flashbacks e depoimentos, vemos uma mulher enclausurada em suas memórias, detalhando um cotidiano cruel e desenrolando uma teia que desemboca num final surpreendente.
Luiz Buranga, que tem mais de 20 anos de carreira no teatro, fala que a motivação para escrever o espetáculo surgiu a partir do contato com vítimas de violência doméstica. “O espetáculo toca numa ferida da sociedade coberta de gases e esparadrapos, sem cicatrização e que a cada dia sangra mais”, revela o autor e diretor.
Em Sobejo, Eddy Veríssimo embarca em seu primeiro espetáculo solo após integrar o elenco de diversas produções teatrais como Ruína de Anjos (2015), Remendo Remendó (2011), e Arlequim – servidor de dois patrões (2004), montagem de fundação d’A Outra Companhia e que lhe rendeu também a indicação ao Prêmio Braskem de Teatro na categoria Melhor Atriz Coadjuvante.
A equipe do espetáculo conta com a direção de movimento de Anderson Danttas, que se vale da ressignificação de objetos para auxiliar a construção da dramaturgia corpórea da atriz. Esse é o mesmo caminho seguido por Israel Barreto, preparador corporal da montagem.
A trilha sonora é assinada por Roquildes Junior, que propõe o diálogo entre as referências musicais apresentadas na própria dramaturgia e uma textura urbana e ruidosa, sublinhando o impacto que os seguidos anos de violência causaram a personagem. O espetáculo estreou em 2016, ano em que se celebra os dez anos da Lei 11.340 (Lei Maria da Penha), criada para oferecer mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher. |