O genial dramaturgo brasileiro Plínio Marcos em 1986 trouxe a cena Balada de Um Palhaço um texto necessário, provavelmente em todas as épocas da vida humana, por se tratar de um argumento em que coloca o perfil do ser humano espiritualista e materialista, o conflito entre o ser e o ter, talvez um dos mais antigos da espécie humana e latejante até nossos dias contemporâneos, ter ou ser, é uma busca eterna.

O incrível nesta obra é pensar sobre o que nos faz feliz? O que é a vida? Comer, trabalhar, dormir ou só trabalhar, trabalhar e trabalhar para ter ou ser? E ser um arauto da ilusão? Somos felizes com o que fazemos, acreditamos em nosso próprio talento ou vivemos dos nossos aleijões como uma condenação humana? O que faz realmente um ser humano ser feliz e realizado em sua profissão?

A partir de um cronotopo de circo, onde o tempo e o espaço revelam a existência de dois seres humanos totalmente mergulhados em refletir sobre sua própria existência humana como palhaços e o quão são realizados como seres humanos felizes; com o sucesso, o poder, as mulheres, os travestis, a TV, e o DINHEIRO! Sendo um convite para cada ser humano perguntar-se é feliz, realizado profissionalmente e tem consciência de sua própria realidade no mundo?

O ator Everton Machado(O Compadre de Ogum, Barrela,  Gabriela TV Globo) dar vida ao personagem “Bobo Plin”  e divide a cena com o ator Ismael Marques Jr.( Barrela, Coisas Belas) que interpreta “Menelão” o palhaço materialista. Na voz de Evelin Buchegger (Prêmio Braskem 2018 Melhor Atriz) a “Cigana”.

A montagem identifica o valor da espiritualidade de Bobo Plim em oposição ao materialismo de Manelão onde, a partir deste duelo de desejos, podemos analisar o quão a vida tornou os homens em homens-máquinas, onde o intento do texto é incomodar os homens-máquinas e seus atentos maquinistas e despertar o próximo, revolver de sua condição homem-máquina!

Com direção de Nathan Marreiro (Barrela, Uma Mulher Vestida de Sol), a concepção desta montagem é ser fiel ao discurso de Plínio Marcos pela sua simplicidade em nos revelar o quanto somos aprisionados em nós mesmo ou em coisas materiais. O quanto é importante reconhecer que ainda temos nossas pernas para subir ao monte! Ou seja, o dramaturgo nos faz pensar sobre as nossas pernas, são elas que nos levam aonde nenhuma outra máquina poderia alcançar, o cume dos montes! Vou subir o monte...enquanto tenho pernas!

Para Marreiro, “Bobo Plin” representa a angustia de muitos que se sente infelizes, não realizado profissionalmente e que busca refazer sua alma, seu espírito, sua vida! E saber da importância das pernas, pode ser um primeiro caminho para uma libertação pessoal!” E complementa: Assim, a busca da encenação é: Ó ideal faze com que eu não diferencie o fracasso do sucesso. E perdoa a minha dificuldade de comunicação, assim como eu perdôo os que não tem ouvidos de ouvir nem olhos de ver! Destrói meu orgulho, que poderia afastar-me da tua luz-guia, nutre meu devotamento, porque és, Ó ideal, a realeza, o equilíbrio, a força da minha intuição.

Balada de um Palhaço tem direção musical de Maurício Lourenço, preparação vocal de Fao Miranda, preparação corporal de Emerson Ataíde, maquiagem de Priscila Marques e consultoria artística de André Luiz Dias( Grupo In-Cena, Téofilo Otoni -MG).

Além disso, como forma de captação de recursos, a equipe vem realizando vários ensaios abertos, com contribuição espontânea consciente do público, como forma de angariar recursos para a estreia. Desde abril deste ano a Cia de Teatro Gente levou os ensaios abertos para o Festival de Teatro de Curitiba no Paraná  e em Salvador no Terreiro Ilê Axé Tagenã, na Faculdade de Educação da UFBA e no 10° Encontro Nacional sobre Atendimento Hospitalar e Domiciliar da Faculdade Batista.