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A quem interessa e serve o carnaval. Por por Zuggi Almeida

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Zuggi_Almeida

A Paraíso do Tuiuti chegou a menos de um bico da Beija Flor, na corrida pelo título de melhor escola de samba do Rio de Janeiro.
Lutando contra a omissão da Rede Globo, a Paraíso do Tuiuti deu uma verdadeira aula sobre realidade brasileira. Valendo-se do poderio

midático da própria Globo, a agremiação do Bairro de São Cristóvão – periferia do Rio, invadiu milhões de lares brasileiros e internacionais para contar a trajetória do negro no Brasil, desde as galés dos tumbeiros até o trabalho escravo que insiste em perdurar nos dias de hoje.

Um perfeito cruzado de esquerda aplicado nos manipuladores globais das notícias, que foram “homenageados” em um dos carros alegóricos que exibia mãos gigantescas ordenando os movimentos de indivíduos vestidos com a camiseta da seleção canarinho e pilotando patos infláveis amarelos. Restou ao apresentadores do desfile darem um mute e deixar as imagens falarem por si. A escola explicitou o que parte da população do pais tem conhecimento : o maniqueísmo da comunicação das empresas do grupo dos irmãos Marinho.

A Paraíso de Tuiuti conseguiu sintetizar com perfeição os 130 anos da Lei Áurea e seus efeitos cumprindo o papel determinado pela Lei 10.693/03 que exige o ensino da cultura e história afro-brasileira e africana. A lei nunca foi aplicada na sua plenitude nas salas de aula brasileiras,mas, foi necessário uma escola de samba apresentar com maestria e baseando-se numa pesquisa aprofundada os aspectos da escravidão e suas interfaces.

A Tuiuti desnudou o golpe dado por políticos corruptos com o apoio do grande empresariado nacional e da mída no palco de um dos maiores espetáculos ao ar livre do mundo. O carnaval do Rio é transmitido em rede internacional e milhões de telespectadores em diversos países viram o enrêdo ‘Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão’ denunciar essa escravidão, a manipulação midiática, o golpe político, exigir os tucanos nas cadeias, a supressão dos direitos dos trabalhadores e por fim o causador de tudo: um presidente vampiresco representado por um ator fantasiado como o Michel Temer usando a faixa presidencial.

Uma ópera atualíssima e surpreendente a cada ato apresentado e conduzida por uma composição de versos fortes como “Meu Deus ! Meu Deus! / Se eu chorar não leve a mal / Pela luz do candeeiro / Liberte o cativeiro social ‘. A platéia cantou e vibrou, a Globo ficou muda e manteve as imagens. Embora nos noticiários posteriores, o tempo de exibição das tomadas do desfile da Paraíso de Tuiuti tenha sido um terço das outras escolas que também desfilaram.

A Globo apostou todas as fichas na Beija Flor e torceu para que a Tuiuti não estivesse entre as escolas que farão o desfile das campeãs. A escola de São Cristóvão foi vice e com gosto de campeã popular. Outra saia justa para Rede Globo foi o coro das arquibancadas gritando o “Fora Temer’, obrigando a emissora cortar o aúdio por diversas vezes.
Enquanto a Tv Globo insiste em apresentar a ficção ‘O Outro Lado do Paraiso”, a Tuiuti trouxe para Marquês de Sapucaí a realidade nua e crua desde a Comissão de Frente contemplada com o Estandarte de Ouro até o último carro exibindo o Drácula do Planalto.

O carnavalesco da Tuiuti, Jack Vasconcelos traçou um desfile político e ousado para uma escola que está apenas com dois anos de participação no grupo Especial. Ousou e saiu vitorioso diante da aclamação do povo. Jack cumpriu um papel que segundo ele, ‘ser um artista e inconformado cabendo a sua arte instigar.
Outra lição do carnavalesco é reconhecer que toda sua formação foi pelo ensino público, portanto, hoje ele está dando o retorno do investimento à população. Perfeito.

O carnaval sempre foi usado para atender interesses diversos, dessa vez foi utilizado para uma causa muito nobre que foi lavar alma do povo brasileiro.

Sábado, dia 17 de fevereiro tem mais Paraíso da Tuiuti , no desfile das Campeãs da Globo. O que será que está sendo preparado pela bancada de jornalismo da Vênus Platinada ?

Plim ! Plim ! Valeu Paraíso !

*zuggi almeida é produtor cultural e roteirista.

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