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ACM Neto e a Escola Arrasada. Por Walter Takemoto

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura
Walter-Takemoto

Desde o inicio de sua gestão que o ACM Neto demonstra uma dupla personalidade para a população de Salvador.
Um ACM Neto é aquele produzido pelas empresas de comunicação de sua família, que o vendem como um produto nas vitrines e prateleiras. Realizador de festas, espetáculos, reformador, e o melhor prefeito do país.

Se os meios de comunicação foram capazes de legitimar socialmente um golpe em um país, o que não pode fazer em uma cidade quando a família do prefeito manda e desmanda na TV, no rádio, jornal, e em parte do poder judiciário?
O outro prefeito é aquele que na vida real impõe a população os descalabros de suas medidas, devidamente perfumadas pelas suas empresas de comunicação.

Não se trata apenas das denúncias de favorecimento de empresas de parentes e amigos. Ou da delação de milhões recebidos em obras.

Trata-se das consequências na vida real.

Por exemplo, a falência de comerciantes na Barra. A expulsão de pequenos comerciantes no Mercado do Peixe. Dos trabalhadores informais na orla, Estação da Lapa e a perseguição cotidiana no Rio Vermelho. Ou a falência de comerciantes na Baixa dos Sapateiros e Barroquinha, com o fim das linhas de ônibus que foram transferidas para a Lapa privatizada, exatamente para a empresa de uma parente.

Mas nada se compara com o que faz ACM Neto com as escolas, seus profissionais e as crianças que nelas estudam.

Desde antes de sua posse que ACM Neto faz a alegria dos mercadores de pacotes educacionais. Dezenas de milhões de reais gastos sem licitação com empresas que por trás do discurso de garantir aprendizagem de qualidade a curto prazo para alunos e alunas, nada mais fazem do que padronizar o ensino e a aprendizagem, transformar as salas de aula em linha de montagem e cada uma das professoras e dos professores em apertadores de botão, ou aplicadores dos receituários que produzem em larga escala.

E agora ACM Neto impõe a “enturmação”, que nada mais é do que superlotar salas de aula.

Provavelmente ACM Neto e seus comandados dirão que algumas salas estão com 24 ou 25 alunos.

Essa resposta é como a de um secretário de segurança pública dizer que em uma cela tem 24 ou 25 presos.

Só não diz que a cela era para no máximo 14 reclusos. Assim como ACM Neto não dirá que a sala de aula onde ele quer colocar 25 crianças, no máximo caberiam desconfortavelmente 20, sem ar condicionado ou ventilação.

Mas algumas salas após essa enturmação do ACM Neto terão 45 ou mais crianças.

E provavelmente ACM Neto também não dirá que nessas salas superlotadas estão matriculadas crianças com deficiências, que possuem o direito de frequentarem uma sala de aula, atendimento de qualidade que respeite suas capacidades, o ritmo e necessidades de aprendizagem.
Mas nada disso garante o prefeito e seus comandados, pois não estão preocupados com os profissionais da educação ou com os direitos das crianças.

Para o prefeito interessa os pacotes educacionais, indicadores quantitativos que demonstrem que a defasagem idade série, a repetência e a evasão escolar caíram, que as crianças estão “aprendendo”. Mesmo que esses indicadores sejam maquiados pelas planilhas mágicas e valiosas das empresas mercadoras desses pacotes.

Mas professoras e professores não são máquinas repetidoras, ou robôs programáveis, que de sua sala de comando o prefeito possa determinar o que devem fazer, quando e como.

Professoras e professores são profissionais da educação, mulheres e homens que cotidianamente em suas salas de aula se deparam com desafios que envolvem escolhas relacionadas a complexa tarefa de garantir para cada criança o direito de aprender, mas que também vão além, pois se deparam com a dura realidade das escolas, das comunidades e das condições de vida da população que mora na periferia e depende da escola pública.

Algumas vezes, não poucas, o peso dessa responsabilidade, somada com o desprezo de governantes como o ACM Neto em relação a escola pública, seus profissionais e alunos, provoca o desânimo, o cansaço de ver ano após ano, se repetir o mesmo abandono e as mesmas promessas não cumpridas.

Mas por não serem máquinas, é que sempre sobrevive em cada profissional da educação, em todo o país, a indignação, a chama que alimenta o desejo de fazer a diferença, mesmo quando parece que nada mudará.

E é por isso que professoras e professores em todo o país continuam cotidianamente lutando. Seja para ensinar mais e melhor as crianças, adolescentes e jovens. Seja para conquistar direitos básicos.

E ACM Neto que não se engane, essa história não terminou, Vai ter a volta do cipó.

Walter Takemoto é Educador

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