Duas experiências interessantes neste domingo. A primeira é a coluna da ombudsman da Folha de S.Paulo, Vera Guimarães, que criticou a postura do jornal em esconder a delação do lobista Fernando Moura. Simplesmente não  apareceu na capa do jornal a declaração de que um terço de toda a propina de Furnas seria do tucano de Minas.

A jornalista criticou a falta de destaque do jornal à declaração de Moura ao juiz Sérgio Moro, declarando que Furnas Centrais Elétricas mantinha um esquema de propina semelhante ao da Petrobras. Vera lembra que a declaração saiu com maior ou menor destaque em todos os grandes jornais, mas sumiu da primeira página da Folha. Disse ainda que “a reportagem tinha bom tamanho, mas ficou espremida em uma só coluna ao lado de um anúncio”. E disparou que “foi pouco”.

Disse ela que, "a menção a Aécio Neves merecia visibilidade por um trio de razões. O senador tucano é o maior líder da oposição, e nessa condição tem sido crítico contundente do governo petista a cada revelação trazida pelas investigações –muitas delas obtidas nas mesmas condições em que seu nome foi mencionado, com réus confessos e disse me disse". Ela lembra que Furnas tem um histórico recheado de denúncias de desvio de recursos.

E, por fim, avisa o Otavinho e equipe do jornal que os tempos mudaram e é preciso levar isso em conta quando se olha o país. "Toda vez que um delator levanta história com alguma raiz conhecida, a reação dos contrariados é dizer que se trata de notícia requentada com interesses políticos, para prejudicar esse ou aquele. Pode até ser, mas os tempos agora são outros."

A segunda experiência interessante vem do jornal O Globo. Em seu editorial deste domingo, o jornal da família Marinho traz o sugestivo título de “É imperioso investigar toda denúncia”, com a linha fina dizendo que PT e PSDB se digladiam em torno de quem é mais corrupto, quando “o importante é que os organismos de Estado punam seja quem for”. Assim, de repente, o jornal afirma que “não se duvida que a corrupção no Brasil seja pluripartidária”, num país de cultura patrimonialista, “em que donos de cargos públicos costumam misturar negócios  do Estado com interesses privados, o ofício de surrupiar o dinheiro do contribuinte não haveria de ser exclusivo de algumas poucas correntes político-ideológico”. Daí dá umas chicotadinhas no PT dizendo que o partido usou um discurso e na prática foi outra coisa, e daí joga pesado, dizendo que a prática foi tão deletéria  “a ponto de desestabilizarem a maior empresa brasileira, a Petrobras, num escândalo de dimensões para além das fronteiras”. Neste ataque de sinceridade não teve espaço para um mea culpa básico.

Continuando a leitura vem a parte em que diz que “os malfeitos do lado do PSDB também não podem ser esquecidos”, e lembra aqui que Marcos Valério começou um belo esquema de corrupção, o início de todos os mensalões, o mensalão tucano.

Não podendo negar a que veio, o jornal já joga que a equipe de Lula da campanha de 2002 reconheceu e se interessou pelo know-how de Valério, e “foi assim que surgiu o mensalão mais famoso que o mineiro”. E faz a declaração mesmo sendo o mensalão tucano muito mais oneroso ao bolso que aquele imputado aos petistas.

“Já no estado de São Paulo, a grande cidadela tucana, a imagem do PSDB já carrega a mancha da conivência com um cartel de fabricantes de trens (Alstom, Siemens) envolvido numa história de denúncias de corrupção em que um dos principais acusados foi chefe da Casa Civil no governo Mário Covas, Robson Marinho, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado. E dono de contas na Suíça”. Isso tudo está lá, no editorial.

Mas é isso. Daí começa a crítica ao lulopetismo, que é atacado e sangra na Lava-Jato, “com revelações sobre o sítio e o triplex reformado por empreiteiras para agradar (ou ressarcir) Lula, estourou mais um caso tucano: fraude no fornecimento da merenda escolar”. Daí, entende-se o motivo do editorial: as propinas foram supostas pagas a gente ligada ao governador Geraldo Alckmin. A diferença entre Alckmin e Lula, é que Alckmin é poupado e apoiado pelo jornal dos Marinho. Pois o jornal termina dizendo da maldade do PT, que não perde oportunidade de alvejar o governador, “um dos prováveis candidatos ao Planalto”. E acusa Lula de ser um dos principais atiradores.

E finaliza dizendo que “o importante é que tudo seja investigado, com o mesmo rigor da Lava Jato. Sem deixar de lado a menção do senador Aécio Neves (PSDB-MG)”. Achou que seriam isentos? Errou. Diz o texto que quem fez a delação foi o amigo de José Dirceu. E defende: “não importa que seja pouco verossímil um tucano ter feito nomeações no governo Lula”. E já está de bom tamanho. é tudo para este carnaval, não queiram mais.

Leia a coluna da ombudsman Vera Guimarães Martins, Triângulo mineiro, clicando aqui.

Leia o editorial de O Globo, É imperioso investigar toda denúncia, clicando aqui.

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