Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

As razões do ódio: Lula me representa. Por Sérgio Guerra

4 - 5 minutos de leituraModo Leitura
Sergio_Guerra2

Com certeza uma das maiores, senão a maior vitória do “Golpe de 1964”, foi a destruição das representações políticas e sociais do povo brasileiro, em todos os níveis e dimensões, desde os “grêmios estudantis livres”, reduzidos a “centros cívicos”, submetidos as “orientações

educacionais”, dos novos diretores, não eleitos das escolas, ao tempo em que se destituíam as autênticas lideranças sindicais, livremente eleitas pela sua base e se nomeavam “interventores pelegos”, encarregados de garantir a submissão dos trabalhadores à política da ditadura, representante do capital internacional e dos patrões locais.

Deste modo, o aparecimento do “Novo Sindicalismo”,, nos finais dos anos 70, horizontalizado pelas organizações construídas “pela base”, que nos levaria até a existência da “Central Única dos Trabalhadores”, a CUT, além de outras Centrais e Confederações, posteriormente, concorrentes e/ou aproximadas, bem como dos “vários partidos de esquerda”, mais ou menos, enraizados, ou não, sofrendo as agruras do nosso sistema eleitoral, que privilegia o indivíduo sobre o social e transforma o mandato, em propriedade pessoal e privada do seu dono, mesmo que construído coletivamente, pelos votos da legenda do partido ou coligação.

Assim, em 2013, no momento em que o Brasil conseguia, enfim, um governo construído “pela base”, com uma profunda representação do movimento social organizado, que realizou significativas mudanças no quadro econômico, político e social, curiosamente, surge uma réplica local dos “indignados” europeus, afro-asiáticos e norte-americanos, com seus movimentos de “Ocupe” e protestos para não perder direitos consagrados pelo “estado de bem estar social”, lá há muitas décadas, enquanto, aqui no Brasil, o problema ainda é o de conquistar parte expressiva destes.

Desta maneira, vale o registro de que motivos para indignação não faltam, nem mesmo pra mim que pago meu Imposto de Renda, sobre salários e na faixa mais alta, o que vale dizer o das grandes celebridades, empresários, empreiteiros ou mesmo investidores, sendo que destes últimos, poucos pagam sobre os ganhos do capital financeiro, isto sim é que é “renda”. Enquanto no Brasil o teto é o que eu pago de 27% e nas “oropas e steites”, avançam para muito mais da metade, ou seja, dos 50%.

Nestas ocasiões de protestos, sobretudo, os cartazes e as faixas que mais apareceram, na grande mídia, foram as manifestações, individualizadas de justos desejos reprimidos, historicamente, sejam íntimos e/ou pessoais, ou coletivas e quase absolutas de “não me representa”, literalmente, aplicadas a todas as instituições ou personalidades, quase que indistintamente.

O resultado deste processo de despolitização das instituições, em geral, e dos partidos e/ou políticos, principalmente, gerou uma disputa eleitoral, em 2014, burocrática e sem grandes emoções, mesmo com a morte trágica de um jovem representante de um projeto anódino, insípido e inodoro, apesar de tentar se travestir de “novo”, ainda que fosse por um “Neto”, ainda que de um representante da esquerda, ou por uma mulher, oriunda das esquerdas, mas bancada não se sabe por que setor do empresariado ou da burguesia, que sequer conseguiu viabilizar uma “nova” legenda para si.

Deste modo, somente no 2º turno, quando se deu uma forte polarização, entre a presidenta Dilma, por um lado e pelo Norte/Nordeste, contra um Neto, pela direita e Sul Maravilha, foi que, enfim os setores ligados a intelectualidade e a cultura, percebendo o quando perderiam, é quê se apresentaram, mais efetivamente, para defender o projeto mais democrático e popular que a presidenta, apesar de tudo, representava.

Assim, a vitória, apertada e arrastada da presidenta seria o caminho para sua derrocada e do golpe, já que a representação popular não se via respeitada no governo que, enfim, foi derrotado e desgastado, pela mídia, oposição política e judiciário,  comprometidos todos com os interesses da burguesia, quatro vezes derrotadas eleitoralmente, e incapazes de vislumbrar uma saída neste campo.

Aí, estava pronto o caminho do “golpe”, que, praticamente, já se deu e ainda se encontra em plena efetivação, apesar das trapalhadas de seus “aloprados” ministros, cada vez mais sinistros e quase que, totalmente, “cínistros”, haja vista, as suas “prévias indiciações”, quase que de todos, no processo conhecido como “Lava a Jato”, do qual a queda do (s) ministro da Fazenda é, infelizmente, apenas a 1ª das personalidades a serem “comidas”.

Entrementes, a tentativa frustrada de prisão, após um quase seqüestro do presidente Lula, levantou a autentica e justa indignação do povo brasileiro, que nova e efetivamente, “foi às ruas” em defesa do seu projeto político e de sua grande representação social, pois voltou à tela o grito de guerra, em defesa dos petroleiros, que diz, agora em sua nova versão: “Lula é meu amigo, mexeu com Lula, mexeu comigo!”. Existe forma de apreço e manifestação de carinho a sua representação social mais evidente? E aí, haja ódio para este grande líder político e social, sem dúvida, a mais legítima representação popular da história brasileira, em vida!

Compartilhar:

Mais lidas