Aldeia Nagô
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Entre caminhoneiros e o povo. Por Walter Takemoto

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Walter-Takemoto

Os caminhoneiros, sejam os das transportadoras, cooperativas ou atravessadores, reivindicam a redução do preço do diesel, a não cobrança do pedágio sobre a roda livre, revisão do frete, entre outras.

E a mídia aproveita e dissemina para a população, e os caminhoneiros, que o problema do diesel é a carga tributária, resposta comum quando se trata de discutir o preço elevado que se paga aqui no Brasil em relação ao que se cobra em qualquer outro país.

Nada se fala sobre a política de preços praticada pela direção atual da Petrobras, posta lá pelo golpe, que beneficia os USA de onde o Brasil importa quase 80% do diesel, os sócios da empresa, grande parte grupos de investimento, e que alinhou os preços praticados aqui a variação do preço internacional e indexada ao dólar.

E a mídia não fala também que ao invés dos impostos, o que encarece qualquer produto aqui no Brasil é a alta taxa de lucro praticada e a transferência de lucros para o exterior, as matrizes das multinacionais.

E se calam também que a população sofre com os preços exorbitantes do gás de cozinha, da luz elétrica, da água, das tarifas de transporte público.

E ao mesmo tempo em que as políticas de preços dos combustíveis, das tarifas de água e luz, dos transportes, são determinadas pelo “mercado”, nada se diz que esse mesmo ente “invisível” é o responsável pelo fim dos direitos trabalhistas, do sucateamento dos serviços públicos, da terceirização irrestrita e do desemprego de 14 milhões de trabalhadores e o crescimento acelerado da precarização do trabalho em nosso país.

A tragédia social que vivemos não é exclusiva da pequena parcela dos caminhoneiros chamados de autônomos, mas atinge a grande maioria da população brasileira, que caminha a passos largos para a condição de extrema pobreza, e que não possui um caminhão para dirigir, em grande parte vive da informalidade e sob permanente violência do próprio estado.

É para essa população que precisamos olhar e a ela nos dirigirmos para procurar construir relações de solidariedade, contribuir para sua organização e mobilização, pois sem ela não existirá saída para a barbárie dos nossos tempos.

Não queremos a repressão militar sobre os caminhoneiros? Não, não queremos, pois não é assim que se resolve um problema político e social.

Mas não podemos continuar fazendo de conta que não existe repressão militar cotidiana contra o povo da periferia, que morre de morte matada pela ação do narcotráfico, dos grupos de extermínio e da policia militar.

Se, como diz parte da esquerda, queremos “disputar” a direção do movimento dos caminhoneiros, é preciso lembrar que só poderemos disputar qualquer narrativa com os golpistas que dirigem esse movimento e com a mídia que manipula informações, quando tivermos ao nosso lado os trabalhadores e o povo pobre ocupando as ruas defendendo seus direitos e uma outra sociedade.

Pois essa atual, em que o poder econômico a tudo controla, inclusive a circulação de mercadorias e riquezas pelos caminhões, não nos interessa.

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