Lei Rouanet e o festival de insanidades que assola o país. Por Wilson Gomes
Faz parte da nova modinha do vigilantismo moralista esculhambar artistas e intelectuais divergentes da nova hegemonia.
No festival de insanidades que assola o país, a fantasia da Lei Rouanet como um espécie de duto duplo por meio do qual o governo entrega dinheiro e recebe apoio de artistas e celebridades – seria “corrupção estética”? – merece lugar de honra. Em comentários de jornais online ou de posts de redes sociais digitais, assim como em xingamentos de restaurantes, a equação é simples: se artista crítico da oposição e do antipetismo, logo, dependente da Lei Rouanet, logo, ladrão e vagabundo. Para usar uma analogia, a Lei Rouanet funciona para artistas não alinhados aos novos ventos como o Bolsa Família para os miseráveis que votavam no PT, segundo a perversa e despirocada fantasia reaça: é um meio clientelista de que se servem governos do PT para dominarem corações e mentes. Rá.
E os intelectuais, como este pobre escriba de Facebook, que não tem talento para trocar por acesso às tetas da corrupção? Ou não somos, na verdade, a inteligência que acreditamos, mas “pseudointelectuais” (reaças adoram “descobrir” que, na verdade, somos “burrões com camuflagem”), ou certamente levamos um por fora, ora se levamos. No caso de professores de universidades federais, entretanto, a equação é facilitada: temos um emprego estatal, logo, vivemos às custas do PT. Nada mais óbvio do que engraxar os sapatos, vermelhos, do governo em troca do caviar nosso de cada dia. A ideia de que somos funcionários do Estado, e não do governo, é muito complicada para quem já tem tantas certezas. Mas isso tudo é provisório, me garantiram, e vez por outra recebo nos peitos um “Fique esperto que a sua boquinha na UFBA vai acabar”. Morro de medo, gente, não vou negar.