Aldeia Nagô
Facebook Facebook Instagram WhatsApp

Longa metragem “Maputo Nakuzandza” estreia nos cinemas brasileiros colocando a capital de Moçambique como protagonista

6 - 8 minutos de leituraModo Leitura

Filme dirigido por Ariadine Zampaulo aproxima Brasil de Moçambique por meio da poesia e do cinema e questiona os resquícios coloniais portugueses que resistem em nossas cidades
Revelar a vida de uma cidade por meio do cinema. Esse é o mote principal de Maputo Nakuzandza, longa metragem ganhador do Prêmio Especial do Júri (Mostra Première Brasil: Novos Rumos) do Festival do Rio 2022 e que estreia no circuito brasileiro dia 14 de novembro, com distribuição da Descoloniza Filmes.

Dirigido por Ariadine Zampaulo (Brasil), o filme tem produção e roteiro assinados por ela em parceria com Maria Clotilde Guirrugo (Mariclô Produções – Moçambique). Nakuzandza significa “eu te amo” na língua Changana, que é uma das mais faladas do sul de Moçambique. Assim como na escolha do título, o filme Maputo Nakuzandza faz referência aos filmes de cidades, apresentando alguns personagens e histórias paralelas que se desenvolvem em Maputo, capital de Moçambique. 

O longa é um retrato sensível e poético de um dia em Maputo, que muito se aproxima de qualquer metrópole brasileira, seja pelo idioma em comum, seja pelos resquícios da violenta colonização portuguesa que o ambiente urbano não resiste em pulsar por algumas esquinas e ruas esquecidas.

O filme começa no raiar do dia em Maputo e encerra-se ao final da noite. Entre esses dois momentos, diversas histórias acontecem simultaneamente: Jovens saem de uma festa e nos quintais senhoras iniciam o dia. Um homem corre, uma mulher chega de viagem, um turista passeia, um trabalhador apanha o transporte público e uma noiva desaparece. Porém, há um elemento de costura entre todas elas: a Rádio Maputo Nakuzandza, que narra parte dessas histórias ao longo de sua programação, também atravessada por indicações de horário e músicas moçambicanas. 

De acordo com a diretora Ariadine, o filme nasceu de suas pesquisas sobre o cinema feito em Moçambique e foi rodado em 2017, quando ela foi a Moçambique através do programa de intercâmbio da graduação em Cinema na Universidade Federal Fluminense (Niterói-RJ). 

“Me mudei para lá motivada principalmente pela pesquisa sobre a produção e história do cinema moçambicano. A ideia da produção de um filme surgiu depois de alguns meses morando em Maputo. Eu já estava envolvida em uma cena cultural e conhecendo pessoas que propiciaram a realização de um projeto como o Maputo Nakuzandza”, ela explica.

Ariadine decidiu então que queria falar daquela cidade a partir de um mosaico de histórias, “algumas delas inspiradas em coisas que eu já conhecia ou tinha ouvido falar e outras que foram sendo desenvolvidas aos poucos, já sob imersão com a equipe do filme”, aponta a diretora, que desde o início do projeto tinha como protagonista de Maputo Nakuzandza a cidade de Maputo em si.

O longa traz cenas de diversos pontos da capital moçambicana, inclusive nas cenas nas quais o elenco figura de modo mais direto. O segredo aqui foi manter uma direção de fotografia em planos abertos, que permitiu a continuidade da existência de Maputo sem maiores interferências. “A gente acompanhava um dos personagens, mas o ambiente ao redor seguia seu fluxo normal. As coisas que estavam acontecendo naquele momento não deixavam de acontecer por conta das filmagens. Pelo contrário, elas aparecem no filme como são”, revela o diretor de fotografia David Gross (Alemanha).

“Eu entregava uma ação simples na mão dos atores e era na improvisação que eles faziam a cena acontecer. O foco seguia sendo o movimento da cidade ao redor”, endossa a diretora Ariadine em relação ao caráter poético cheio de delicadeza e também de política que Maputo Nakuzandza evoca organicamente. O caráter documental que o filme apresenta se fundamenta a partir do atendimento de algumas necessidades de logística que se colocaram diante à equipe do longa durante sua gravação, além de também evocar homenagens a filmes do cinema moçambicano.

Exibido em seus primeiros festivais em 2022, Maputo Nakuzandza já conquistou seis prêmios: Festival do Rio 2023 – Mostra Première Brasil: Novos Rumos (Prêmio Especial do Júri); XVIII Panorama Internacional Coisa de Cinema (Júri Indie Lisboa – Competitiva Nacional); “Melhor desenho de som” e “Melhor música original” no BIS – Bienal do Cinema Sonoro, em Goiânia, este ano; e “Melhor Diretora Americana” e “Melhor Diretora de Longa-Metragem de Ficção” no oitavo Urusaro International Women Film Festival, em Ruanda, África.


O filme também recebeu Menção Especial do Júri (categoria New Visions) no Sicilia Queer Filmfest (Itália) e já viajou o mundo por meio de mostras distintas, tais como: New Directors/New Films (EUA), FIDMarseille (França), Mostra de Cinema de Tiradentes – Mostra Aurora (Brasil), Olhar de Cinema (Brasil), Festival Close-up 2022 (França), International African Film Festival 2022 (Argentina), 9th Porto/Post/Doc: Film & Media Festival (Portugal), Woche Der Kritik / Berlin Critic’s Week 2023 (Alemanha), Berwick Film & Media Arts Festival 2023 (Inglaterra) e  FESPACO 2023 (Burkina Faso).

Ficha técnica de Maputo Nakuzandza
Brasil, Moçambique | 71 min | Ficção

Direção: Ariadine Zampaulo

Roteiro: Ariadine Zampaulo, Maria Clotilde Guirrugo

Produção: Ariadine Zampaulo, Maria Clotilde Guirrugo

Pós-produção: Juliana Shimada, Paulo Guambe

Montagem: Bruno Teodoro, Ariadine Zampaulo

Fotografia: David Gross

Som direto: Luciano Mauia

Edição de som: Isadora Torres

Co-produção: Mariclô Produções (Moçambique)

Produtora associada: Olhar Através
Elenco: Sabina Tembe, Fernando Macamo, Luis Napaho, Silvana Pombal,  Eunice Mandlate, Malua Saveca,  Paulo Zacarias, Salvado Mabjaia, Domingos Bié (in memorian), Maria Clotilde.
Distribuição: Descoloniza Filmes

Ariadine Zampaulo – Ariadine Zampaulo é diretora, montadora, roteirista e preparadora de elenco, trabalha em parceria com produtoras do interior de São Paulo e do Rio de Janeiro. Formada em Cinema e Audiovisual pela UFF, em 2017 morou em Maputo, onde pesquisou a história e produção cinematográfica contemporânea de Moçambique e dirigiu o premiado longa-metragem de ficção “Maputo Nakuzandza” (2021). Nesse período também foi curadora de filmes brasileiros no KUGOMA e montadora do documentário “Nhenha” (dir, André Bahule, 2018) curta exibido em festivais como Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, MIMB e RAI Film Festival: Ethnographic Film (Reino Unido). Dentre seus trabalhos recentes destaca-se a montagem do longa “O Som Alcança o Sol” (dir. Bruna Epiphanio, 2024) com estreia internacional no Atlantic Doc, Uruguai. Fez a preparação de elenco do curta “Viventes” (dir. Fabricio Basilio, 2024) filme vencedor do prêmio do público no 13º Olhar de Cinema. Foi assistente de direção e consultora de roteiro do longa-metragem “Dyaspora Santa” (dir. Rogério Borges, em finalização), e é co-roteirista do longa-metragem “Elias”, projeto em desenvolvimento pela Olhar Através.

Sobre as produtorasMaputo Nakuzandza é uma coprodução entre a cineasta brasileira Ariadine Zampaulo e a produtora moçambicana Mariclô, da atriz, encenadora e produtora cultural Maria Clotilde Guirrugo. O filme tem como produtora associada a Olhar Através, da diretora e produtora executiva Bruna Epiphanio, sediada no interior paulista. 

Olhar Através – A Olhar Através é uma produtora independente fundada na cidade de Piracicaba/SP que atua na produção, gestão e criação de projetos audiovisuais realizando filmes que priorizam o trabalho com a memória. Tem atuado na direção criativa e produção executiva de filmes em coprodução com Alemanha e Moçambique, alcançando a visibilidade em festivais nacionais como Mostra Tiradentes, Festival Internacional do Rio, Panorama, Olhar de Cinema e internacionais como FID Marseille (França), Dok Leipzig (Alemanha), Thessaloniki (Grécia), New Films/New Directors (Estados Unidos). Em sua trajetória desenvolve projetos com ONGs, sistema S, trabalha com fundos estaduais por meio de ICMS e editais direcionados à produção audiovisual. Integra o ICine – Fórum de cinema do Interior Paulista e também a Cena 14 – rede de produtores de audiovisual independente, ambas buscam fomento à produção do cinema e audiovisual voltado aos interiores do Estado de São Paulo. Também atua em parceria com produtoras como Som de Black Maria, Grão Filmes, Grupo Kino-Olho, Rubro Filmes, Lira Filmes e Descoloniza Filmes.
Descoloniza Filmes – Fundada por Ibirá Machado em 2017, a Descoloniza Filmes é uma distribuidora paulistana dedicada a produções independentes e socialmente engajadas. Ao longo dos anos, lançou mais de 30 filmes que abordam temas políticos e culturais relevantes, estabelecendo-se como uma das distribuidoras mais ativas no cenário do cinema independente brasileiro

Compartilhar:

Mais lidas