Metafísica…. Por Arthur Andrade
Nunca fui lulista. Sempre votei no PT mesmo nos tempos das pequenas revoltas que sentia pelo que o partido não fez… com todas aquelas oportunidades de fazer.
Encontrei Lula três vezes. Duas como repórter, Lula presidente do PT e Lula deputado. Nunca mais. Em ambas as vezes, sai impressionado. Ele não era desse mundo…
Mas a terceira vez foi, foi, foi…uffff…pourra de palavra que não encontro.
Lula ia receber seu décimo-sei-lá título de doutor honoris causa, dessa vez na Universidade Federal da Bahia. Eu trabalhava lá, com meus amigos queridos na assessoria de imprensa.
Naquela manhã resolvi sair do tumulto e me escondi na minúscula cantina no andar superior da reitoria. Estava lá perturbando as meninas. As meninas do cafezinho. Foi quando ouvi aquele mundo de passos na escada. E o pequeno corredor ser coalhado de homens de preto.
Bom dia, tem um cafessinho ai pra gente?
Não sei se vc percebeu, mas Lula tem uma discreta lingua presa.
Aquela voz rouca entrou na cantina como um bloco do Olodum e os mil tambores.
Vi as meninas trêmulas. “E aí, tem ou não esse cafessinho?”
Correram. Pegaram as térmicas. Xícaras trêmulas saíram das mãos nervosas.. e o cara tomou seu cafesssinho cheio de elogios. Agradeceu, fez uns selfies e saiu como entrou. Não apertou mão de ninguém como fazem os políticos.
Testemunhei. O que vi ficou guardado. Lula não olha as pessoas. Ele enxerga, vai além. Por isso acho que aquele Lula era um ser incorporado, uma entidade de um desses planos metafísicos. Não era Luiz Inácio. Era uma coisa metida num paletó, com perfume discreto, elegância e gentileza desses caras estudados. Aliás, vi poucos estudados com tanta gentileza.
Lula deixou a cantina e tomou a Reitoria. Sua voz no meio daquela multidão tomava as ruas do Canela…e a gente na cantina sem sair do lugar.
Não sei se virei lulista depois daquele dia de setembro 2011.
Mas hoje entendo que aquilo que achava ser uma entidade de planos metafísicos já era uma idéia. E uma idéia, a gente sabe, não tem corpo, tem alma. Não pode ser presa, trancada, acorrentada.. porque é invisível, intocável, porque é livre.
Artur Andrade é jornalista