Mito pra que te quero? Por Walter Takemoto
Estou vendo uma enxurrada de posts tratando da importância vital da unidade da esquerda para enfrentar a ofensiva da direita.
São inúmeros dizendo que é hora de deixar as divergências e diferenças de lado para forjar a unidade. E no caso atual eleger o Freixo para a prefeitura do Rio de Janeiro.
Quer dizer, esqueçamos quem éramos até o dia 04 e vamos renascer outros a partir de agora!
Antes de mais nada, não sejamos hipócritas ou ingênuos: a ofensiva da direita sempre existiu e existirá. E a atual ofensiva raivosa da direita nasceu no mensalão, não foi com os resultados das urnas. E sabemos todos nós que não houve unidade da esquerda para enfrentar o crescimento da ofensiva da direita durante esses anos e muito menos para tentar barrar o golpe contra a Dilma, muito pelo contrário.
E não existiu, ao longo de séculos unidade da esquerda na história das lutas da classe trabalhadora contra seus exploradores e opressores nem no Brasil e muito menos no mundo. Portanto, não somos uma exceção.
Ficar propagando a unidade da esquerda como caminho para a esquerda é um discurso tão antigo quanto a própria divisão da esquerda, e quase sempre serviu apenas aos que utilizaram esse discurso para se apresentarem como salvadores da pátria ou guardiões da pureza dos princípios históricos revolucionários.
A unidade da esquerda é um mito, como o da neutralidade cientifica, da civilização ocidental sobre todas as demais, da potência masculina sobre a feminina, da inteligência do povo japonês, da pontualidade britânica e qualquer outra que se quiser listar.
Se a unanimidade é burra, a unidade também o é.
Esconder as divergências, ou fazer de conta que não existem, não é recomendável nem mesmo nas relações pessoais, muito menos quando estamos falando de princípios políticos que norteiam nossas ações nas lutas por uma sociedade mais justa, democrática e sem exploração e opressão.
Explicitá-las é o que pode nos conduzir à uma relação de respeito e busca de uma atuação conjunta em torno de objetivos comuns, prioritariamente no movimento social.
E o que pode determinar essa possibilidade de atuação conjunta, mais do que os pontos programáticos de convergência, são as atitudes e os valores que se expressam na prática, no convívio cotidiano, nas lutas que se travam nos movimentos.
E o discurso vazio da unidade, que não condiz com a prática, negam os valores e as atitudes que expressam uma ação de sujeitos comprometidos com a transformação dos homens.