Aldeia Nagô
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Muquiranas: não é só amor. Por Maria Carolina

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Permito-me à licença poética para modificar a frase do Baiana System e dizer, infelizmente, “não é só amor”. Hoje eu e Paula fomos gredidas física e verbalmente pelos foliões do, já não aceitável, muquiranas.

Estávamos na paz, como sempre estamos, contra fluxo, para chegarmos em 1) local de trabalho da Paula 2) trio do Baiana System que era onde eu iria ficar. Nossa caminhada foi interrompida por um jato de água, sem sentido nenhum, na nossa cara, e com a nossa indignação e solicitação de respeito, foi como se houvéssemos aberto o portal do inferno. Eram os nossos gritos de “covardes! mulher não é fantasia! suas desgraças!” de um lado e de outro, risadas, insultos homofóbicos e jatos e mais jatos de água na nossa cara e na câmera, porque, naquele momento, a câmera era a nossa única arma em mãos, contra umas 20 armas de água. A gente ouvia as risadas e via o peito de inflado com o ego ultrapassando qualquer barreira de sanidade. A imposição de poder deles naquele momento e a nossa sensação de impotência foi completamente devastadora e humilhante. E quanto mais a gente gritava e tentava se defender de alguma forma, mais eles colocavam as armas na nossa cara, mais eles nos insultavam. Apenas uma pessoa, um homem, tentou nos proteger. Uma única pessoa naquela multidão inteira. Ele largou o isopor e veio colocar a mão na frente, também se molhou, por nós.

Fomos, encharcadas, pedir ajuda para os policiais que estavam ali perto (infelizmente não tão perto para ver acontecendo) e já chorando, pedimos ajuda. Depois de algumas perguntas, nos levaram no comado. No caminho, vimos os tais muquiranas jogando jato de água na bunda de uma mulher e falávamos “Isso é assédio! Isso é assédio”, vimos um deles dando um tampa na bunda dela. Os policiais só disseram que isso era o que mais acontecia. Nosso ódio só ia aumentando.

Chegando ao comando fomos muito bem recebidas (e compreendemos o nosso lugar de privilégio para tal). Estávamos muito abaladas e tremendo nervoso. Nos deram água, nos ouviram e conversaram com a gente. Infelizmente encontrar os agressores, mesmo com as fotos, naquele momento, seria impossível, mas nos orientaram como poderíamos prosseguir dali já que estávamos com as provas em mãos – me permito a parabenizar a Paula por sua coragem e garra e por conseguir, mesmo que naquela situação bizarra, fotografar as pessoas que estavam nos agredindo – e então eles começaram a falar do carnaval e em como esses tais muquiranas passam dos limites e não respeitam ninguém! O major falou sobre uma pesquisa que compara o carnaval, energeticamente, com uma guerra, e com certeza, esses muquiranas alimentam essa energia de merda. Carnaval era para ser alegria, era. Mas é uma indústria bizarra que alimenta ainda mais as desigualdades sociais e que nos coloca em estado vulnerabilidade.

Para não deixar vocês sem o final da história, fomos acompanhadas por um grupo de policiais até o local de trabalho da Paula. Lá nos separamos da polícia e uma da outra. Tentamos nos reerguer, energeticamente falando, para conseguirmos fazer o que fomos ali fazer.

Aproveito esse infeliz acontecimento para dizer que não dá mais! Não há uma única pessoa com quem conversei nos últimos tempos que aceita o muquiranas. Ninguém aguenta mais esse bloco de merda. Um argumento é simples: MULHER NÃO É FANTASIA! Os outros caminham entre a imposição de poder, os assédios, a falta de limite e respeito. Não sou dessas de generalizar, mas infelizmente, com o muquiranas só tive desprazer com as experiências de contato visual e agora físico.
Peço, para quem se sentir confortável, que compartilhe esse texto.

Mulheres, peço que nos organizemos. Compartilhem suas histórias com o carnaval e com os muquiranas. Não vamos mais nos calar sobre isso. Eles são bizarros! Não tem mais porquê existir!

Texto: Maria Carolina
Fotos: Paula Fróes

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A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, pessoas em pé, multidão e atividades ao ar livre
Paula Fróes é Reporte Fotográfica

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