Aldeia Nagô
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Só Astolfo na causa!!! Por Franciel Cruz

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Franciel_Cruz

A verdade, esta menina traquina que não salva nem liberta, é uma só: o debate sobre o nazismo tá grudado nesta (mal) dita rede social mais do que perna de passarinho otário em visgo de jaca.

E, se todos assim procedem, não seria este obediente locutor que iria contrariar esta lei das internets.

Seguinte.

Há coisa de 14 ou 17 anos, não me pergunte a data exata, pois não uso relógio, inventei de fingir que queria aprender alemão para ler Goethe no original e sair das trevas da ignorância gritando “Lich, mehr lich”. Mentira. Tudo era apenas um pretexto para usufruir as dores & delícias do centro da cidade do Salvador.

Então, nem bem terminava a aula naquela inconsequentemente linda casa de azulejos azuis onde morou Simões Filho — e eu já descia a pirambeira rumo à Budega de Beleza, um dos locais que mais me provocavam alumbramento na ainda hoje deslumbrante Mouraria.

Para que vocês tenham ideia do encanto do lugar, no cardápio existiam “58 tipos e variedades de iguarias”, mas só saia moela. Ô, grória!!

— Desce uma aí no computador, gritava Beleza (sim, Beleza era o nome do dono do estabelecimento) para ele mesmo, na verdade para a própria barriga que, um pouco avantajada, chegava na diminuta cozinha com dois meses de antecedência.

Porém, o que me fascinava realmente eram os diálogos no referido e insalubre recinto — só que para desfrutá-los fazia-se mister (recebam, fascistas, um mister no cangote) chegar bem cedo, pois o balcão ficava completamente lotado com a presença de cinco pessoas.

Assim, naquele início dos anos 2000 (já disse pra não me questionar sobre a data exata, pois não uso relógio), chego e peço uma baladinha, canjebrina daquela de estourar tênis, e fico em silêncio a apreciar o caloroso debate. Já havia aprendido com Melodia que se a gente fala menos talvez compreenda mais.

Porém, os três amigos do balcão paracem que não conheciam Luiz, falavam falavam, não se entendiam e quase chegavam às vias de fato por conta de divergências em relação à 2ª Guerra Mundial. E, naquele rojão, era bem provável que a 3ª estourasse ali, caso não adentrasse o recinto um sujeito com um classificador debaixo do sovaco. (Classificador debaixo do sovaco, para que os jovens entendam, seria um notebook hoje, ou ifone, ai fode, uma porra desta).

Pois bem.

Quando a excelsa figura entrou no sacro estabelecimento fez-se silêncio sepulcral, igual ao que ocorria na hora que os matadores ou xerifes sanguinários entravam nos saloons das películas de minha infância querida, da aurora da minha vida, que os anos não trazem mais.

— Astolfo, você que é um intelectual, um oficial de justiça (perceberam como os intelectuais de antanho eram muito mais qualificados?), poderia opinar sobre este tema para acabar esta confusão?, solicitou Beleza, um tanto quanto preocupado com a aspereza do debate.

Nosso Eric Hobsbawm de classificador no sovaco não se fez de rogado. E, ato contínuo, começou a cofiar a barba, conforme recomenda a etiqueta de todos os intelectuais de escol, gabaritados. Assim, depois de se raciocinar todo, largou.

— Foi tudo muito simples. Stálin, que num era raça de gente, ficou ali, na dele. Hitler, todo afoito, foi de vez, sem saber que o outro estava na cocó. E pronto!

Pronto. Tudo resolvido. Vocês conhecem um resumo melhor da 2ª Guerra? Se souberem, digam aê.

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