Aldeia Nagô
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Um desagravo a Simanca e colegas de A Tarde. Por Ernesto Marques

3 - 4 minutos de leituraModo Leitura
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Não perderia tempo escrevendo sobre um jornal cuja edição de domingo se pode ler em no máximo dez minutos, mas romper o cómodo silêncio dominical me aflorou como obrigação depois de correr os olhos sobre as cartas dos leitores.

Ler A Tarde aos domingos já foi quase um ritual familiar, não faz muito tempo. Mas a decadência iniciada com o afastamento do jornalista Jorge Calmon se acelera enquanto a rumorosa venda do antigo “maior jornal do Norte/Nordeste” compõe uma história cada vez mais mal contada. A nenhum jornalista agrada ver a morte lenta de um jornal. Conservador como sempre foi, como conservador era o Dr. Jorge, A Tarde era sobretudo um jornal baiano. Desde que deu as costas para a Cidade da Bahia e para a Bahia, o jornal dos Simões chafurda. Preservada em seu território, em grande medida graças à mobilização do jornal na memorável campanha “A Bahia não se divide” (final da década de 1980), a Bahia tem razões para queixar-se do abandono dos herdeiros de Ernesto Simões Filho.

A irritação com o hábito do qual ainda não me livrei, de gastar alguns reais para comprar a edição dominical, não me faria escrever sobre a agonia do jornal e os infortúnios vividos por colegas jornalistas de lá. Mas no exercicio do legitimo e normalmente inútil “jus sperniandi”, lanço aos ventos virtuais essas mal traçadas linhas de protesto contra o escárnio e o desrespeito dos misteriosos “novos investidores”.

Dias atrás a comunicação baiana levou um coice ao tomar conhecimento do desabafo do magistral cartunista Osmani Simanca sobre a forma como seu trabalho foi questionado por algum luminar do “jornalismo” do que sobrou de A Tarde. Como se não bastasse tamanho atestado de ignorância, os “jênios” hoje comandam a redação que já teve Jorge Camon e Florisvaldo Mattos no timão, acintosamente se socorreram de um leitor para elogiar sua estupidez. Para ajudá-los no esforço de ostentação da sua mediocridade, reproduzo na ítegra:

“Parabéns
Parabéns ao grupo A Tarde por finalmente nos presentear com um cartunista de verdade, que faz cartuns com o momento político, e não política com os cartuns. Espero que tenhamos ficado livres dos ransos saudosistas de uma esquerda fracassada, que insistiam em nos empurrar goela abaixo. Um deles inclusive de tão saudosista nem dá pra entender porque está aqui, pois até parece que na terra dele é uma maravilha (sic)”.

E o que é a primorosa edição deste domingo? Das dez páginas do primeiro caderno, três são anúncios de página inteira; a 2 tem o Tempo Presente de Levi, o artigo de Paulo Ormindo e as cartas de leitores; a 3 tem um Jaguar que não é sequer a borra da caneta nanquim do fundador do Pasquim, editorial e artigos; a 7 traz o obituário e reportegens de estagiários; a 8 tem entrevista de página inteira com um desembargador, feita por uma colega do A Tarde SP (?) competente para escrever sobre qualquer tema, de assuntos de cafofos chiques à reforma trabalhista; e a página 10, 100% dedicada a textos de agências de notícias, traz uma reportagem de ¾ de página sobre projetos sociais de cidades goianas e mineiras bancados com a reciclagem de lixo eletrônico.

O robusto caderno “Negócios & Oportunidades”, com incríveis quatro páginas, fora as colunas assinadas, traz apenas matérias de estagiários – ou seriam “escraviários”?.

E o Caderno 2? Meus Deus… o único conteúdo local é a página 7, com a colagem dos eventos culturais e programação das salas de cinema e teatro.

Mas então as derradeiras esperanças estariam no caderno de política e economia. Afinal a política local está quente e a crise nacional é um mar de boas pautas, dado o protagonismo de lideranças baianas. Certo? Errado… a capa é anúncio de página inteira, as páginas 2, 3 e 4 são matérias de agências já publicadas em seus respectivos sites; Patrícia França salva a nossa pátria baiana com uma boa reportagem no alto da 5, fechada com mais textos de agências; nas páginas 6 e 7, mais colagem de agências e as restantes (8, 9 e 10) os colegas da editoria de esportes ocuparam mais espaço porque o assunto é esporte (leia-se futebol).

Mas não se encham de esperanças com esse gol de honra. A qualquer momento Alezinha Roldan, disso que chamam ATARDE SP, logo estará cobrindo a dupla BA-VI no Brasileirão 2017…

Ernesto Marques é Jornalista

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