Economia e a rádio CBN: má fé ou incompreensão? por Ceci Juruá* |
Economia | |||
Ter, 04 de Novembro de 2014 02:18 | |||
Na ânsia de demonizar o governo Dilma, a rádio CBN parece não ter limites. Depois de muito bradar por mudanças na economia, entre as quais aumento dos juros para conter a inflação, apressa-se agora em afirmar que a decisão de elevar 0,25% na taxa SELIC contraria as promessas de campanha de Dilma. Na verdade esta formulação contém um duplo equívoco, como se demonstra a seguir. Como afirma em entrevista o ex-ministro Delfim Neto, nossa “indústria estava sendo destruída por uma valorização do câmbio que primeiro roubou sua demanda externa, depois roubou a interna.” (DELFIM NETO, entrevista dada a Érica Fraga, FSP/02-11-2014). Está certo Delfim, e por isto se deve considerar benéfica a desvalorização cambial dos últimos 3 anos, apesar dos efeitos inflacionários. Surpreende, no entanto, que a CBN não divulgue, ou apenas o faça raramente, aquele que pode ser considerado o maior problema da economia brasileira na atualidade – a sangria nas contas externas do Brasil, em razão de gastos improdutivos no exterior e das remessas de lucros, juros e dividendos. Do déficit total nas transações correntes em 2014, que se prevê atingir a soma de US$ 80 bilhões (cerca de R$ 192 bilhões e 3,5% do PIB), mais da metade é proveniente dos dois itens citados – viagens internacionais e remuneração de capitais estrangeiros. É ilusão pensar que o déficit de transações correntes possa ser compensado por aumento da poupança doméstica, como sugerem analistas e agências internacionais. Pois enquanto o déficit é feito em divisas – dólar, euro ou outras -, a poupança interna se faz em reais. A compensação sugerida é inviável. Mas disto não se fala, a CBN cala e a opinião pública brasileira desconhece. Porque, afinal de contas, enfrentar este problema exige desafiar a livre circulação de capitais e limitar a remessa de divisas para o exterior, nos termos propostos por Getúlio Vargas e João Goulart, expressos na Lei 4.131 de 3-09-1962, com as devidas atualizações requeridas pelas atuais condições econômicas e políticas. A sugestão de Delfim Neto para o déficit das transações correntes, na entrevista citada, é que multipliquem os incentivos às multinacionais instaladas no Brasil, para que elas exportem mais produtos industriais e ampliem sua integração nas cadeias produtivas da economia mundial. Mas, esclarece ele, para tanto é necessário garantir o respeito aos contratos, à política cambial em curso e não fazer exigências de conteúdo nacional frente aos imperativos da produtividade! É um ponto de vista que merece reflexão e debate. Importante é que nessa entrevista o ex-ministro recoloca o problema nos devidos termos e define com clareza o que deve, ou deveria constituir o centro dos debates na atualidade, na direção contrária ao que faz a CBN.
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