Foi-se o Jacques Chirac, aos 86 anos. Por Rosa Freire d'Aguiar |
Comportamento | |||
Dom, 29 de Setembro de 2019 15:33 | |||
![]() Fizemos, nós jornalistas da Presse Étrangére, várias entrevistas com ele. Lembro de uma, Chirac recém-eleito prefeito de Paris, nos idos dos 70. Muito alto, magro, sentado numa cadeirinha frágil toda dourada, cara fechada, cruzando e descruzando as pernas, sem parar, levemente irritado com as perguntas incômodas. A certa altura a cadeira balançou e ele quase foi ao chão. No final, abriu-se uma cortina e ele nos introduziu num daqueles gigantescos salões do Hôtel de Ville, onde havia um buffet pantagruélico, desses que os franceses sabem preparar para impressionar convidados, tudo regado a litros de champagne. Chirac tinha um lado bon vivant que adorava a cozinha francesa de antigamente (a "roborativa", como eles dizem), os vinhos feitos com técnicas milenares, o folclore cantado na Corrèze natal, uma das regiões mais pobres da França, as vacas e os bezerros do tradicional Salão da Agricultura de Paris, onde passava horas papeando com agricultores e provando de tudo. Esse lado bon vivant incluía os amores -- como, dizem, a Claudla Cardinale.
Foi ministro varias vezes, primeiro-ministro do socialista Mitterrand. Acabou presidente, por dois mandatos, entre 1995 e 2007. No segundo, teve uma votação estrondosa, de mais de 80 por cento, pois o republicanismo francês funcionou à toda, derrotando o o fascista Le Pen (ah, que falta nos faz o republicanismo que poderia ter barrado a eleição do capitão).
Nesses anos 90-2000 revelou-se o melhor Chirac, O que criou o Musée du Quai Branly, com um acervo de arte africana, japonesa, americana, e peças lindas dos indígenas brasileiros. O que reconheceu a responsabilidade do Estado francês nos crimes do nazismo e do regime infecto de Vichy. O que se opôs à segunda guerra no Irak, enfrentando o Bush filho. O que, num discurso na África do Sul, lançou o alerta do aquecimento global com a frase (recentemente repetida por Macron): "Nossa casa está queimando e olhamos para o outro lado".
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