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A alma musical no buraco negro por Antonio Godi
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Comportamento
Qui, 29 de Outubro de 2009 02:08
Adianto, ter relutado e, muito em publicar esse texto. Até porque já não suporto mais o assédio oportunista sobre a herança estético-musical de Michael Jackson. Decidi arriscar porque uma canção que nos assalta com emoção não deve ir para a gaveta. Michael cresceu e conviveu com um contexto de existência diferenciado. Marcado pelo impacto de descobertas eletrônicas e químicas que dariam novos contornos à humanidade. O astro deve ser visto como herói e vítima de seu tempo. Onde os conflitos políticos, bélicos, familiares, étnicos, éticos, técnicos, químicos e culturais demarcam os mistérios hipócritas de uma contemporaneidade inesperada.

Michael é uma representação mítica de um contexto humano profundamente reconfigurado e resignificado. Por conta das novas variáveis elétricas que apontam as sonoridades e as inusitadas visibilidades eletrônicas como componentes de novas investidas culturais. O eterno menino é um novo Davi apontando suas pedras musicais e visuais na direção de uma Babilônia capitalista em processo de mudanças. Michael Jackson, apostou sua fortuna juvenil na constituição de narrativas audiovisuais e performáticas sem igual. O menino continuará genial enquanto, compositor, cantor, dançarino e representante de inesquecíveis performances. Seus longos clips reverenciados e premiados enquanto visionários da construção do formato do DVD já anunciavam uma nova estratégia das disputas culturais e mercadológicas de uma humanidade marcada pela pluralidade estética e eletrônica.

Michael em sua infantil grandeza tem sido visto como um ícone isolado e fora do cenário de seu contexto histórico. O "pequeno grande homem" foi um protagonista precoce de uma cena musical marcada pelas presenças de outros grandes protagonistas na construção da Black Music. Michael é filho e, legítimo representante, de uma experiência étnica, política e cultural diferenciada que teve a estética elétrica e musical como referência. Trata-se das efervescentes décadas de 60 e 70 quando um novo formato de música negra passa a contaminar o milionário mercado discográfico e radiofônico. Tudo começa em fins dos anos 50 com a criação da gravadora Motown dirigida pelo produtor Berry Gordy da cidade dos automóveis em Detroit. Durante as décadas seguintes a Motown passa a gravar e agenciar os maiores astros musicais do período consolidando estilo e comportamentos culturais que a mídia denominaria de soul music. A saber, Diana Ross, James Brown, Marvin Gaye, Quincy Jones, Lionel Ritchie, Ike and Tina Tuner, etc.

Michael administra sua vida de sucesso e inusitadas aberrações nesse cenário de francas novidades e agonias. Conflitos humanos tantos que dão conta de uma guerra étnica e racial que no âmago do capitalismo testemunha assassinatos de políticos tidos como democratas e importantes ativistas negros. Lembro do militante pacifista, M. Luter King e do radical Malcon X. O cara vivenciou tragédias sócio-políticas enquanto arriscava sucessos musicais na adolescência convivendo com uma guerra química e desumana no Vietnã. Ele viu Marvin Gaye ser assassinado pelo próprio pai e Ike Turner impondo violentamente sua masculinidade sobre a grande Tina Turner. Ele conviveu com violências paternas e domésticas na sua infância. E eternizou e mitificou essas vivências na construção inusitada de sua obra vendo Jimi Hendrix e Janis Joplin consagrando uma Black music para além da cor, do tempo das ameaças químicas e de mortes inesperadas.

Ele viu tudo quando participou de ações humanísticas em prol da humanidade plural e de uma África sofrida. Em detrimento de si mesmo, ele foi um negro que ousou reconfigurar seu corpo e sua cor em prol de um projeto estético inusitado. Tudo com base nas novas tecnologias eletrônicas e químicas. Ele sacou as novas fronteiras geográficas da diáspora negra e imprimiu ações junto ao Olodum baiano e o poderoso samba dos morros cariocas. Os últimos "clips" de sua trajetória registra uma vontade humana plural. Nessa linha ele viu muito sobre todos nós e pouco sobre si mesmo. E aí, a Bahia, o Brasil e, a estrela da diáspora brilha na vida e na morte.

Antonio Jorge Victor dos Santos Godi
(Ator, Antropólogo, Professor da UEFS/DCHF/NUC)
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