Mudança veloz por Fabrício Marques |
Meio Ambiente & Sustentabilidade | |||
Dom, 20 de Dezembro de 2009 23:03 | |||
Transferência de renda e acesso à educação são pilares da queda da
desnutrição infantil no Nordeste. Desnutrição de crianças caiu de 22,2% para 5,9% no Nordeste
A desnutrição infantil no Nordeste pode desaparecer do mapa das mazelas
brasileiras em menos de 10 anos caso o problema continue a diminuir com a
velocidade observada nos últimos 10 anos. A conclusão é de um trabalho coordenado
por Carlos Augusto Monteiro, professor da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, e Ana Lucia Lovadino de Lima, pesquisadora do Núcleo
de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP e bolsista de
pós-doutorado da FAPESP. O estudo, que deve ser publicado na edição de janeiro
da Revista de Saúde Púlica, mostra que a prevalência da desnutrição foi
reduzida em um terço entre 1986 e 1996, caindo de 33,9% para 22,2% das crianças
nordestinas, e em quase três quartos de 1996 a 2006, despencando para 5,9%.
"Essa velocidade é inédita. Nenhum outro estudo no mundo revelou uma queda da
desnutrição tão grande nesse espaço de tempo", diz Carlos Augusto Monteiro. A queda da desnutrição no Brasil, em particular no Nordeste, já havia sido detectada em estudos anteriores do Nupens. O que o trabalho dos pesquisadores da USP trouxe como novidade foi a comparação dos fatores que levaram, nas últimas duas décadas, à redução nas taxas de retardo do crescimento infantil - os déficits de estatura são referências mais fidedignas para mensurar a desnutrição crônica até mesmo do que os déficits de peso. Essa análise só foi viável no Nordeste porque a região, que sistematicamente concentrava o problema da desnutrição infantil no país, dispunha de uma rica fonte de dados que permitia a comparação, no caso os inquéritos domiciliares de um programa internacional, a Pesquisa de Demografia e Saúde, feitos em 1986, 1996 e 2006. O estudo foi além e buscou identificar as razões do declínio. Concluiu que fatores distintos derrubaram a desnutrição no Nordeste nos dois períodos. Enquanto entre 1986 e 1996 a melhoria na escolaridade materna e a disponibilidade de serviços de saneamento foram os fatores centrais, no segundo período o fenômeno está atrelado ao aumento do poder aquisitivo das famílias, impulsionado por programas de transferência de renda, como o bolsa-família ou o aumento do salário mínimo, e, novamente, a melhoria da escolaridade materna. "Para controlar o problema em 10 anos será preciso manter o aumento do poder aquisitivo dos mais pobres e assegurar investimentos públicos para completar a universalizaçã Os resultados da pesquisa mostram que medidas como a transferência direta de renda tiveram um reflexo instantâneo e significativo na redução das taxas de desnutrição. Segundo Carlos Augusto Monteiro, a focalização de recursos produziu efeitos sensíveis na questão da desnutrição. "Parece pouco, mas com R$ 100 por família vitimada pela miséria extrema o panorama da desnutrição muda radicalmente" Artigo publicado originalmente em http://colunistas.
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