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A música do carnaval baiano : uma odisseia de Armando Sá até Pablo por Zuggi Almeida
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Qua, 28 de Janeiro de 2015 10:44

Zuggi_Almeida“ Colombina eu te amei. Mas, você não quis. Eu fui para você, Um Pierrot feliz...”

A marchinha graciosa inebriada pelos vapores do lança perfume Rodouro embalava os foliões que circulavam pelos salões nos bailes carnavalescos desde o Clube Pináuna até o Periperi.
Euforia e romance.

O amor sempre esteve de braços dados com a farra nas ruas que levavam até o Maciel ,reduto de Baco e seus alucinados seguidores. O que rolava nas festas privè da high-society era suscitado nas crônicas da época e fazia corar as leitoras curiosas das colunas pós-carnaval. O antológico baile do Botafogo, em Amaralina produzia situações surrealistas que eram relatados nas mesas do Restaurante do Moreira ou do Oceania . A orgia dos carnavais passados protagonizou crises conjugais homéricas.
As orquestras metálicas sopravam marchinhas inspiradas pelo amor, onde:
“ o Pierrot apaixonado
Que vivia só cantando,
Por causa de uma Colombina
Acabou chorando...

Durante o dia, nas ruas os tambores dos blocos e cordões carnavalescos rufavam forte, sendo embalados pelos músicos que atuavam nos bailes da elite à noite. Os repertórios apresentavam na sua maioria canções onde o amor era o tema, algumas sarcásticas outras mais ousadas. O amor imperava no reino de Momo.

Aí, chegou a eletricidade e amplificou o som na avenida, ajudando o pombo-correio levar a carta até as mãos do amada do menestrel, enquanto ele aguardava a resposta em cima do trio elétrico. Todos se molhavam de chuva, suor e cerveja.
Eu sou negão e meu coração é a Liberdade, quando esses versos ecoaram no começo da avenida reivindicando passagem para o balanço sincopado do bloco afro ,massa cantava :
“ Minha crioula ,
Vou cantar para você
Que está tão linda
No meu bloco Ilê Aiyê...”

A beleza negra se espalhou pelo carnaval e o poeta anunciava :
“ Tudo fica bonito
Você estando perto
Você me levou ao delírio
Por isso eu confesso
Os seus beijos são ardentes...

As coisas começaram a mudar quando a canção se encontrou com o marketing na curva do Sulacap, nunca tinham se visto antes, mas, o marketing sabia porque estava ali. O flerte levou ao namoro, daí ao casamento com separação de bens e logo após, os filhos.
Todos eles, “puxaram” ao marketing. O amor ficou esquecido numa esquina da Carlos Gomes.
A música do carnaval de Salvador não é mais a mesma, o axé music ( além do desrespeito à expressão sagrada) desce a ladeira sem freios, o modelo onde imperava a apropriação e a segregação está esgotado. A fonte secou.

Os investidores do mercado do carnaval apostaram na diversidade e esqueceram que o carnaval baiano é possuidor de uma identidade própria de uma característica ímpar e de um detalhe especial: a música do carnaval baiano sempre foi originada nas ruas, nos ensaios dos blocos, onde prevalece a participação popular. O compositor como o grande protagonista do repertório do carnaval.
O modelo excludente da organização carnavalesca relegou o povo ( ou como classificaram, o folião-pipoca) ao segundo plano. O carnaval passou gerar “reis e rainhas do axé”, a buscar eleger a música do ano, a produzir artistas efêmeros e o pior, esqueceu que a festa na sua essência acontece nas ruas.
O camarote é o gueto dos vips e tenta-se reproduzir uma alegria mundana, mas é tudo fake.

Hoje, o carnaval de participação popular, um forte valor agregado que atraía centenas de milhares de turistas para seguir atrás dos trios pelas ruas da cidade está perdendo espaço para outros destinos no período da festa. O Rio de Janeiro e suas centenas de blocos abertos à participação de todos e Pernambuco mantendo a coerência cultural estão desfilando lá na frente, quando se trata de realizar a folia.
Os custos para participar da festa em Salvador são elevados e afastam o folião interessado na festa. Será que os organizadores e marqueteiros não se deram conta dessa situação ¿

Tentando acertar no alvo do sucesso, os produtores miram em Anitta, Gustavo Limma, Valeska Poposuda, Seu Maxixe, Aviões do Forró, em Pablo, em astros da música sertaneja. Alguns desses integram até blocos carnavalescos.
Essa é a música do carnaval contemporâneo de Salvador.

Oh! Quanta sofrência.

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