As universidades federais brasileiras encontram-se em delicada conjuntura. Se por um lado, o fundamental processo de expansão vivenciado nos últimos anos incluiu setores historicamente marginalizados no seio de nossa instituição, por outro, a capacidade das instituições federais de ensino superior - e assim, da própria UFBA - em absorve-los mostrou-se frágil.
A demanda é inversamente proporcional à capacidade responsiva da universidade. Já em 2014, por exemplo, admitíamos deficit de cerca de 36 milhões de reais, assim como dificuldades no âmbito da assistência estudantil, levando em consideração á adesão ao SISU e o não cumprimento do montante total prometido á UFBA. A essa geleia geral soma-se o corte de R$ 7 bilhões no orçamento do MEC e com isso forma-se uma indigesta pátria educadora.
No dia 23 de março, a Administração Central da UFBA trouxe à tona algo que há tempos debatíamos no Conselho Universitário (Consuni) e no Conselho de Curadores. Se vemos concreta disposição dos administradores da UFBA em minimizar o problema - seja através de articulações institucionais, seja em garantir a assistência estudantil como fonte central a ser preservada - vemos também um alerta para o sangramento de um dos setores mais frágeis das universidades publicas brasileiras: os terceirizados. E sua greve, deflagrada há pouco, é acima de tudo legítima e necessária.
Nesse sentido, e antes de mais nada, resta-nos a dúvida: porque a comunidade acadêmica é convocada a contribuir com o debate de ordem orçamentaria apenas quando vivemos em época de vacas magras? Por que a democracia liberal reinante na ufba é democrática apenas quando debate-se os ônus? Urge, assim, a necessidade de debatermos com profundidade nesta instituição, a construção do orçamento participativo, para que a comunidade acadêmica seja, independente do cenário , sempre partícipe das decisões de ordem orçamentaria na UFBA. A falência da democracia liberal está posta, o patrimonialismo e a estrutura feudal fazem-se presentes, e apenas um projeto alternativo de sociedade e de universidade garantirá voz á seus mais variados sujeitos.
Um espectro ronda a UFBA
Faz-se necessário que a comunidade acadêmica e seus quatro segmentos - estudantes , docentes, técnico-administrativos e terceirizados - saiam de seus nichos e pensem como um só corpo. Os cortes orçamentários atingem a todos e agora a unidade deve comandar a ação.
É fundamental a deflagração de um processo de mobilização permanente, que construa um substrato politico em conjunto, e, dialeticamente com a administração central da UFBA, faça ecoar uma firme posição: não aos cortes na educação! Nesse sentindo, a assembleia da Apub, dia 28 de maio, dará o tom do debate.
Em recente entrevista concedida a "O Dia", o reitor eleito da UFRJ e quadro histórico do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior), Roberto Leher, debate a situação das IFES em sua totalidade, e afirma: "os reitores, em geral, não podem dizer ‘amém’ ao corte de verbas pelo governo federal". Se por um lado o ano e a greve de 2012 representaram, por essência, as contradições do processo de expansão via REUNI, por outro 2015 é ainda mais turbulento. Afinal de contas, a fonte secou e os problemas perduram. Essa deve ser a greve também dos reitores, e cabe à Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior) fazer-se não somente um apêndice do governo. Que seja bem vindo o ato puxado pelo reitor da UFBA - nunca antes visto na história desse país - e de suas categorias organizadas do dia 25 de maio, em defesa da educação.
É necessaria não somente uma mobilizacão permanente das categorias da UFBA. Os reitores e a Andifes precisam tomar lado e dizer não. Um espectro ronda a UFBA.
*Marina Fernandes é estudante de Ciências Sociais e da direção do DCE
Artigo publicado originalmente em http://www.trabalhadordanoticia.com.br/2015/05/universidades-na-sofrencia-por-marina.html |