Por mais que a gente se esforce, é uma tarefa hercúlea entender e, principalmente, explicar, quais as razões que levam os dois maiores jornais de Salvador, numa edição de domingo, ignorarem em suas capas o significado de, na noite do sábado anterior, cerca de 5 mil pessoas terem,literalmente, lotado a Concha Acústica do TCA nos shows que já nasceram antológicos de Carlinhos Brown, Lazzo, BaianaSystem e Ney Matogrosso.

Como assim?! Não há razões políticas, editoriais, crise, horário de fechamento ou o que quer que seja que enfie na cabeça de um leitor que shows daquela magnitude não tenham, no mínimo, gerado fotos deslumbrantes e jornalísticas daqueles momentos.

Estavam lá os melhores fotógrafos dos veículos de comunicação e os melhores repórteres fotográficos da cidade. A Concha lotada, vibrante, sobretudo após ter ficado tanto tempo fechada, não gera noticiabilidade suficiente para estar na capa numa edição de domingo?

E nem para dizer que os veículos tinham coisas muitíssimo mais importantes ou ilustrativas para noticiar e, que, por isso, pela força de acontecimentos jornalísticos de muito maior relevância, tiveram que limar a Concha da capa. E depois a gente ainda se espanta que o Governo Temer tenha "rumado la desgraça", no bem dizer da língua das ruas de Salvador, no Ministério da Cultura. Nossos jornais afirmam, com as capas de hoje, que a cultura pode sim, talvez deva, sim, ser escondida, relevada ou renegada.

Literalmente, na capa dA Tarde o lixo é muito mais relevante que a arte. Seria cômico, como trocadilho até, se não fosse tão triste e trágico. O Correio preferiu o futebol. Isso quando nada era mais tradutor de Salvador que as imagens [e a música, claro] de Brown cantando com Lazzo, do próprio Lazzo lançando a canção "14 de maio" numa cadeira de rodas [por uma lesão na perna ocorrida poucas horas antes do show], de Ney cantando em coro com a plateia Sangue Latino, e da força inovadora, criativa e explosiva da BaianaSystem, literalmente sacudindo as estruturas da Concha num transe com uma plateia, tão conectada com a banda que tornava impossível separar a força de uma da força da outra. As explicações para isso tudo estar fora das capas dos jornais de hoje [15 de maio de 2916] devem existir e devem ser muitas, mas quem souber justificar isso para os leitores, para as pessoas que foram à Concha no sábado ou para a população... morre! Com a palavra, os desenhistas!

P.S1: vão ignorar, nas capas de amanhã, o reencontro, na mesma Concha, dos Novos Baianos?

P.S2: quem não foi e quiser ver alguns vídeos curtinhos dos shows, ir ao instagram @maluzes

Jornalista e professora da UFBA

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