A crença que nos move. Por Walter Takemoto |
Qui, 14 de Julho de 2016 18:31 |
Não faltam críticas apontando que a divisão dos chamados parlamentares de esquerda (parlamentar é diferente de partido, e parlamentar de partido de esquerda não necessariamente é de esquerda, e nem mesmo é possível dizer o que é ser de esquerda hoje) impediu que se chegasse ao segundo turno da eleição para a presidência da câmara. Alguns até mesmo chegam a dizer que se houvesse a dita unidade teríamos (nós quem?) a chance de derrotar Cunha e Temer. Essa crença de que é possível vencer no espaço que é composto por ampla maioria de reacionários, fundamentalistas, fisiológicos, corruptos, ou 300 picaretas como disse um dia o Lula, é que prevaleceu ao longo dos anos na tal da política de governabilidade, de respeito as instituições, ao estado de direito e ao republicanismo. A crença de que o PMDB, PP, PTB e outros do mesmo nível, poderiam se contentar com cargos, emendas, e se submeter ao controle e interesses do governo, resultou no que temos hoje. Parece que nos esquecemos do que foi a votação do afastamento da Presidenta Dilma na câmara: apesar de todas as negociações, dos cargos ministeriais entregues com porteira fechada, da crença de muitos governistas de que era possível vencer, os votos contra o afastamento foram de apenas 137 parlamentares, parte deles no dia seguinte já sentados para compor a quadrilha golpista. Rodrigo Maia teve 130 votos e Rosso 106. PT, PCdoB e PDT juntos contam com 91 parlamentares. De onde sairiam os demais votos, se hoje não se tem mais ministérios, cargos e emendas para se convencer os deputados dos antigos partidos da base? Ou se esqueceram também que na disputa da câmara em 2015 o candidato do governo da Presidente Dilma era o deputado petista Arlindo Chinaglia que obteve 136 votos, e perdeu exatamente para o Cunha, que teve 267 votos? E que nessa disputa o Arlindo Chinaglia tinha o apoio do PP, PR e PSD, esse último é o partido do candidato Rosso que foi indicado pelo Cunha para disputar a eleição atual. E o que disse o Arlindo após a votação? Que vários parlamentares o traíram na hora do voto. E a crença de que é possível mudar votos no senado permanece. Muitos diziam que o Romário mudaria seu voto, favorável ao relatório na comissão que abriu o processo de afastamento no senado. Alguns dias depois o "peixe" se fisgou no anzol do golpe ao negociar diretamente com o Temer cargos federais e simplesmente se calou diante da isca engolida. Não se trata de abandonar a disputa no parlamento, de pressionar senadores para que votem contra o golpe escancarado. A questão é como se realiza essa pressão. Todas as vezes em que parlamentares votaram medidas de interesse dos trabalhadores e do povo, portanto contrárias aos que financiam suas eleições e atuação parlamentar, foi por pressão direta das ruas, de manifestações e mobilizações populares. A crença de que a unidade de esquerda poderia derrotar os candidatos golpistas, Maia ou Rosso, ou que é possível aprovar um plebiscito e eleições, gerais ou presidenciais, e vence-la posteriormente, nos últimos tempos substituiu o processo de mobilização e manifestações contra o golpe que estavam ocupando as ruas em várias cidades do país. E enquanto isso as medidas golpistas vão sendo aprovadas pelos parlamentares, uma a uma. Derrotar o golpe e o retrocesso não se dará sem luta. E mais, hoje a maior derrota que o golpe irá nos impor serão as medidas que os golpistas estão aprovando contra os direitos sociais, trabalhistas e a destruição do serviço e do patrimônio público. Se essas medidas forem aprovadas, nem Dilma voltando ou Lula sendo eleito em 2018, conseguiremos reverter. Ou é agora, ou perdemos o que é nosso. |
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