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Racismo e mestiçagem - O pouco que sei e como me sinto! Por Sérgio Sobreira
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Ter, 06 de Dezembro de 2016 04:19

Sergio_SobreiraMais cedo postei um comentário de estranhamento pelas hostilidades dirigidas a nova cantora da Timbalada, que foi vergonhosamente vaiada no primeiro ensaio do bloco+banda ontem. A humilhação imposta a moça foi a confrontação ao vivo de um processo que começou desde quando a escolha da cantora foi anunciada pela interpelação/provocação de blogs e sites, gerando o costumeiro efeito cardume de toda treta. O motivo: ela é "branca", uma "branca" que está roubando o lugar que deveria ser dos negros.

Na minha postagem eu recuperava uma informação que dá bem a medida de não entender essa súbita hostilidade, já que a Timbalada é um grupo musical que utiliza expressivamente elementos musicais de matrizes africanas ou recriações brasileiras de inspiração africana, mas que historicamente tem colocado à frente da banda (nos vocais) um mosaico pluriétnico (já teve japonês, branca, negra, mestiço, etc.) para matizar aquilo que está nos releases encaminhados a veículos de imprensa: um grupo miscigenado. Portanto, a reivindicação de lócus de negritude pela militância tinha um conflito anterior com a própria criação e gestão do grupo, ao que parece não devidamente examinado, afinal a moça foi convidada e contratada de acordo com o que os donos do negócio pensam ser o certo, logo a ira não deveria ser dirigida a ela em primeiro lugar mas a quem de direito, eis o meu ponto de vista.

Pois bem!

Um debate interessante em vários momentos (mas, lamentavelmente, permeado por constrangedoras dificuldades de interpretação de texto e entendimento elementar do que está posto em vários momentos e que me serviu para revelar o quanto a cupidez pode embotar a capacidade de análise das pessoas quando estão tomadas pelo que consideram suas verdades) e que trouxe novamente para perto de mim uma questão já discutida quando cursei uma disciplina sobre Cultura e Identidades no mestrado.

Naquele ano (2006), coincidiu a vinda de François Laplantine a Salvador, autor de A Mestiçagem, para um seminário no Hotel da Bahia onde se discutia exatamente o panorama da discussão racial que fala tão perto a uma sociedade racista, desigual e injusta como a nossa.

Dentre alguns aspectos interessantes na teoria antropológica da mestiçagem, apresentada por Laplantine, havia a proposição de que esta ultrapassa seu componente biológico e deve ser considerada em suas dimensões cultural, política e linguística. Laplantine defendia naquele seminário que o mundo pode ser filosoficamente pensado como esse trânsito de signos em processo de contínua mistura e fusão e que a mestiçagem poderia ser, ela própria, um modo de olhar (e entender) o mundo.

Contribuições de Castells (sociedade em rede) e Bauman (modernidade líquida), entre muitas outras, parecem se somar a este devir de que somos um continuum em que a transformação da realidade tem a potência de ser um processo feito por dentro, a partir de nossas inferências e ações no jogo do poder. Para tanto, precisamos nos qualificar nos temos dos embates, mas isso é tema para outra conversa...

A polêmica de hoje reflete a cisão entre essa perspectiva e outra que está posta por quem advoga o conflito.O espaço político vem sendo disputado pelo confronto entre conceitos que se apoiam na mestiçagem e na transculturação e outros baseados em raça e multiculturalismo, que sustentam a luta, muitas vezes em sentido radical, como única saída.

Em respeito aos meus princípios, que vêem o debate como caminho possível de construção de consenso, porque acredito na busca comprometida de convergência, na construção aberta de diálogo e, também, por me reconhecer miscigenado em todos os níveis (biológico, cultural, político, etc.), estou disposto e disponível aos que, como eu, não se alimentam do ódio como matéria prima para suas crenças e que pensam nas diferenças como representação das assimetrias mas também como fonte de inspiração para vivermos fora de caixas, para além das cômodas, dos armários, dos cabides, dos rótulos, num fecundo execício de reinvenção e cocriação. Para mim, a tarefa do viver pode ser um infinito exercício criativo e pensar-se acima de elementos "a priori" é um bom primeiro passo.

Aos demais, que o tempo, senhor de toda razão, lhes traga alguma paz.

Publicado originalmente em seu facebook

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