Saí do Museu du Ritmo em estado envolvente:
Show histórico com Luiz Caldas e um time esplandeceste
entrei levitante no primeiro taxi
mas do uber senti logo saudade
conforme aqui descrevo
na função de depoente:
Nenhuma água, ar condicionado ou balas
era um senhor desconfiado pacas
foi quando puxei o assunto 'carnaval'
e daí caí na maior furada.
Ele me disse que era evangélico
e da festa pagã não gostava era nada.
Logo vi que não haveria consenso
e por segundos fiquei realmente calada.
Ele perguntou se eu acreditava na Bíblia
e eu disse que não
que era só ficção
incrível fabulação
por homens inventada.
Ele quase teve uma síncope
um colapso
e em tempo de virar o carro
vi nele uma veia alterada.
Ele falou sobre a verdade do livro
sobre o meu paganismo
sobre o fogo do inferno
e a sordidez do inimigo.
Quase fez um exorcismo.
Não me fiz de rogada, falei em Tupã, Jah
Maomé, Oxalá,em Buda e em Jeová
e que cada um que classifique
o que melhor satisfaça.
Ele me olhou injuriado
perguntou que fé eu tinha
eu disse que nada sei
que a vida é mistério
que eu não levo religião a sério
e muito menos ministérios.
O mar vermelho se abriu em enxurrada
tudo ficou bem sério
ele fechou a cara
que estava ainda mais emburrada
e se apresentou:
Pastor Jorge, da Caixa D'Água.
Agora veja a minha situação
o enviado divino achava
que me evangelizar
era a sua missão.
Sem eu lhe pedir nada
fui bastante orientada
a ler Salmos 14 e 53
como forte indicação.
Agradeci a santa preocupação comigo
mas disse que não carecia tamanha dedicação.
Falei que eu era de um bem razoável
que a ninguém maltrato
e que busco sempre o respeito e a educação.
Ele me deu uma boa "queimada"
me chamou de encegueirada
e que somente um presente
clarearia a minha visão.
Abriu o porta-luvas do carro
pegou um óleo com um cheiro raro
passou no meu braço
e me deu a benção.
Disse que aquilo era um bálsamo
que de Israel foi enviado
e que ajudaria para o meu perdão.
Me deu um papel com o seu contato
para que eu o retorne de imediato
assim que o santo espírito vier
como numa aparição.
O fato é que eu estava em estado alfa
pois aquela noite musical rara
amortizou qualquer contestação
e não me aborreci nenhum pouco
com a surreal situação.
Disse pra ele: Ave Maria!
Que venham as graças e bençãos
vida é celebração.
E e ele bradou: Ave Maria, não!
Fechei a portinha do carro
com a certeza de que a vida é um sarro
só que uns compreendem, outros não.