A psicanálise não é uma experiência burguesa. Por Marcelo Veras |
Sáb, 22 de Abril de 2017 01:36 |
Quando era um jovem psiquiatra conversava com meu professor de residência sobre minha vontade de seguir pela psicanálise. Ele me ouviu interessado e me disse: É muito interessante, pena que é uma experiência muito burguesa.
Mais de trinta anos depois, acredito que naquela época, em pleno movimento estudantil de esquerda, ter escutado essa sentença deve ter me deixado um pouco envergonhado. Era o momento em que a Saúde Mental estav...a em efervescência com Basaglia, Foucault, a esquizoanálise, e a psicanálise me parecia enclausurada em uma sala, o divã funcionando como uma espécie de bola de ferro grudada nos pés de um analista prisioneiro. O que mudou minha ideia sobre a psicanálise? O que me fez perder o discreto sentimento de vergonha diante de meu Supereu marxista? A resposta é simples, foi minha própria experiência de análise. Quando somos analisantes, somos sempre proletários. Isso obviamente quando a análise caminha bem. Não se trata de uma experiência de humildade, é quebrar a cara mesmo. Discordo quando dizem que ricos não entram em análise, pra mim eles entram quando percebem a força de uma frase que ouvia na juventude: pobre mesmo é quem só tem dinheiro. Uma análise só avança quando reduzimos o objeto do desejo ao objeto nada. É quando, como diz Lacan, o desejo é puro desejo. Trinta anos depois, vejo analistas em hospitais, prisões, escolas, nas ruas, nas favelas, em todo lugar onde há gente. Ele não mais está amarrado ao divã, ele leva pela cidade o que tem de mais precioso, seu ouvido e seu desejo. O analista está nas ruas, e é por isso que muitos deles, no próximo dia 28, vão cruzar os braços e perguntar: e agora José? P.S. Disse que a Psicanálise não é burguesa, não disse que não sou. Gosto muito de vinhos e coisas boas. Será que o Emilio vai me perdoar? |
Última atualização em Sáb, 22 de Abril de 2017 05:43 |
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