Eu havia acabado de chegar de Nova York em outubro de 2001 – onde fui receber dois dos três prêmios de jornalismo que ganhei nos Estados Unidos –, quando recebi uma ligação de dona Regina Villas Boas, esposa de Cruz Rios, diretor do jornal A Tarde.

Ela me disse que a sua sobrinha Ticiana Villas Boas gostaria de me conhecer, porque estava concluindo o curso de jornalismo, e sua única experiência era um estágio na TV Educativa.

– Ela é sua fã e quer trilhar um caminho parecido com o seu no jornalismo. Venha conversar com ela, pediu-me.

Eu fui ao apartamento de Cruz Rios, bairro da Graça, no início de uma tarde de sexta-feira. Minha esposa foi comigo e, assim que entrei no apartamento, um susto. – “Que moça linda”, reagi. Minha esposa também fez mil elogios à sua beleza.

Ela tinha 21 anos; eu, quase 37. Ticiana concluía jornalismo na UFBA. Sempre sorrindo, a garota não parou de elogiar o meu jornalismo. Pediu-me conselhos e a nossa conversa foi longa, a ponto de alcançar a noite.

Eu narrei, dentre muitas histórias, todas as adversidades que encontrei no jornalismo, e que ela também teria, caso quisesse mesmo trilhar um caminho parecido com a minha trajetória.

– Você não tem a mínima ideia do que é a corrupção, repeti várias vezes.

Lembro-me que fui enfático sobre a sua beleza, ressaltando que ela poderia receber investida até de Fernando Henrique Cardoso, posto que ele já havia papado várias jornalistas, engravidando inclusive uma delas.

Comentei também que empresários iriam assediá-la, e isso seria um risco para a sua carreira, caso desejasse ser reconhecida como grande jornalista, e não apenas como alguém que tinha relação com algum picareta do capitalismo.

– Ah, isso não vai acontecer mesmo comigo. Eu sou muito centrada, respondeu-me Ticiana.
Nesse instante, a sua mãe, que acabara de chegar ao apartamento, ouviu esse diálogo, abraçou-a com carinho, e acrescentou:

– Minha garotinha é independente desde criança. Disso aí eu não tenho o menor medo!

Depois daquele dia, só voltei a ver Ticiana de longe, no funeral de Cruz Rios, em 2004. Pouco tempo depois, eu a vi na TV Bandeirantes, ao lado de Ricardo Boechat, que fora demitido da TV Globo por corrupção.

– “Caramba. Tomara que essa garotinha tenha ouvido os meus conselhos”, pensei à época.

Outro dia ela deu uma entrevista à revista “Muito”, do jornal A Tarde, e listou os jornalistas que lhe foram exemplos na Bahia. Não citou o meu nome. Ufa. Ainda bem...

Ticiana é hoje, com quase 37 anos, a primeira-dama da corrupção, casada com o açougueiro bilionário Joesley Batista, dono da JBS, a empresa que mais corrompe políticos no Brasil, como revelei aqui em 19/04/2015 (leia o primeiro comentário abaixo).

Olha, a beleza física – seja ela natural, de malhação ou obtida através de operação plástica – é como a maconha e a picanha, algo demais delicioso, porém, em excesso faz mal ao cérebro e ao coração, com metáfora ou não!

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