Faz parte da cultura midiática tentar transformar cada acontecimento em “um fato histórico”, preferencialmente, “o maior da história”, “único na vida nacional” e algo “nunca antes visto em todo o mundo”, desta maneira, o episódio ganha dimensões grandiosas, valoriza seus personagens e, quiçá, rende e vende matérias e produtos que vão ocupar espaços e tempo de toda a imprensa escrita, falada, televisionada e agora, enfim, as chamadas “mídias sociais”, como blogs, sites, etc.

Em verdade, em nossa curta história republicana, ou mesmo européia, vivemos poucos momentos de verdadeira democracia, ou mesmo de normalidade institucional, posto que o “golpismo” tem sido um dos elementos mais constantes e mesmo regulares em nossa vida política, ainda que tenha assumido feições novas a cada momento, ainda que tenha como objetivo mais comum e freqüente a traição da vontade popular, mesmo quando expressa no voto

Entrementes, podemos considerar os acontecimentos desta última semana, bastante inusitados, posto que, verdadeiramente, pela primeira vez, em curta história republicana, e menor ainda de regularidade institucional, pois apesar dos “cansados” da vida, são apenas 28 anos de eleição presidencial “direta e livre”, com 5 eleições, 3 reeleições, 2 “impeachment” e apenas 2 presidentes completando seus mandatos.

Desta vez, pela 1ª vez, houve um julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, de um conjunto de 4 ações, pedindo a cassação de uma chapa eleita, Dilma/Temer “Com a Força do Povo” e, conseqüente, conforme um dos pedidos a “posse da chapa derrotada”. Curiosamente, 2 anos e ½ passados da posse dos argüidos e após o “impeachment” da titular em um processo que deve passar para a história do “folclore político brasileiro”, especialmente, se considerarmos as manifestas razões das declarações de votos dos parlamentares, que devem compor um novo “Festival de Besteiras que Assola o País”. Saudades de Stanislaw Ponte Preta!

Posto isto, o TSE desconsiderou toda a grandiosa relação de “delações premiadas”, já acatadas pelo Supremo Tribunal Federal, STF, e que valem prisões de mais de ano para inúmeros “culpados”, conforme as “leis e tribunais da República de Curitiba”, bem como os extensos e cuidadosos depoimentos recolhidos pelo próprio “Ministro Relator do TSE”, e “julgou” que não havia provas para a “condenação da chapa” e assim, garantiu, ainda que, provisoriamente, conforme o novo pedido de um dos partidos pleiteantes que havia “mudado de idéia”, após a cassação da titular da chapa e acordo com o vice que assumiu.

Tudo isto após curiosos “debates de teses”, em que não faltou a auto-reconhecida “rudeza” do Presidente do TSE, que mereceu pronunciamentos de repúdios de várias instituições, especialmente, dos órgãos representativos dos procuradores, violentamente agredidos pela fala do presidente, bem como de desabafos de ministros dentre os quais saíram até ameaças de “ira do Profeta”, expressa no gesto de decapitação para aqueles que ousaram levantar hipóteses de comprometimento pouco legal sobre ele próprio ou mesmo de um recém nomeado ministro, que juntamente com outro na mesma situação, votaram pela absolvição da chapa, conforme o interesse do Presidente da República, que os nomeou.

Esta aí um julgamento que aos pósteros deverá ser considerado “histórico” pelas singularidades que apresenta, felizmente, espera-se que as gravações perdurem tempo suficiente para que mereçam ser escutados e vistos por novas gerações e passem a compor um curioso e vigoroso painel da justiça brasileira, nestes tempos de golpes e personagens que marcarão a nossa história. Quem viver verá!

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