Um desagravo a Simanca e colegas de A Tarde. Por Ernesto Marques |
Seg, 19 de Junho de 2017 01:42 |
Não perderia tempo escrevendo sobre um jornal cuja edição de domingo se pode ler em no máximo dez minutos, mas romper o cómodo silêncio dominical me aflorou como obrigação depois de correr os olhos sobre as cartas dos leitores. Ler A Tarde aos domingos já foi quase um ritual familiar, não faz muito tempo. Mas a decadência iniciada com o afastamento do jornalista Jorge Calmon se acelera enquanto a rumorosa venda do antigo “maior jornal do Norte/Nordeste" compõe uma história cada vez mais mal contada. A nenhum jornalista agrada ver a morte lenta de um jornal. Conservador como sempre foi, como conservador era o Dr. Jorge, A Tarde era sobretudo um jornal baiano. Desde que deu as costas para a Cidade da Bahia e para a Bahia, o jornal dos Simões chafurda. Preservada em seu território, em grande medida graças à mobilização do jornal na memorável campanha “A Bahia não se divide” (final da década de 1980), a Bahia tem razões para queixar-se do abandono dos herdeiros de Ernesto Simões Filho. A irritação com o hábito do qual ainda não me livrei, de gastar alguns reais para comprar a edição dominical, não me faria escrever sobre a agonia do jornal e os infortúnios vividos por colegas jornalistas de lá. Mas no exercicio do legitimo e normalmente inútil “jus sperniandi”, lanço aos ventos virtuais essas mal traçadas linhas de protesto contra o escárnio e o desrespeito dos misteriosos “novos investidores”. Dias atrás a comunicação baiana levou um coice ao tomar conhecimento do desabafo do magistral cartunista Osmani Simanca sobre a forma como seu trabalho foi questionado por algum luminar do “jornalismo” do que sobrou de A Tarde. Como se não bastasse tamanho atestado de ignorância, os “jênios” hoje comandam a redação que já teve Jorge Camon e Florisvaldo Mattos no timão, acintosamente se socorreram de um leitor para elogiar sua estupidez. Para ajudá-los no esforço de ostentação da sua mediocridade, reproduzo na ítegra: “Parabéns E o que é a primorosa edição deste domingo? Das dez páginas do primeiro caderno, três são anúncios de página inteira; a 2 tem o Tempo Presente de Levi, o artigo de Paulo Ormindo e as cartas de leitores; a 3 tem um Jaguar que não é sequer a borra da caneta nanquim do fundador do Pasquim, editorial e artigos; a 7 traz o obituário e reportegens de estagiários; a 8 tem entrevista de página inteira com um desembargador, feita por uma colega do A Tarde SP (?) competente para escrever sobre qualquer tema, de assuntos de cafofos chiques à reforma trabalhista; e a página 10, 100% dedicada a textos de agências de notícias, traz uma reportagem de ¾ de página sobre projetos sociais de cidades goianas e mineiras bancados com a reciclagem de lixo eletrônico. O robusto caderno “Negócios & Oportunidades”, com incríveis quatro páginas, fora as colunas assinadas, traz apenas matérias de estagiários - ou seriam "escraviários"?. E o Caderno 2? Meus Deus… o único conteúdo local é a página 7, com a colagem dos eventos culturais e programação das salas de cinema e teatro. Mas então as derradeiras esperanças estariam no caderno de política e economia. Afinal a política local está quente e a crise nacional é um mar de boas pautas, dado o protagonismo de lideranças baianas. Certo? Errado… a capa é anúncio de página inteira, as páginas 2, 3 e 4 são matérias de agências já publicadas em seus respectivos sites; Patrícia França salva a nossa pátria baiana com uma boa reportagem no alto da 5, fechada com mais textos de agências; nas páginas 6 e 7, mais colagem de agências e as restantes (8, 9 e 10) os colegas da editoria de esportes ocuparam mais espaço porque o assunto é esporte (leia-se futebol). Mas não se encham de esperanças com esse gol de honra. A qualquer momento Alezinha Roldan, disso que chamam ATARDE SP, logo estará cobrindo a dupla BA-VI no Brasileirão 2017... Ernesto Marques é Jornalista |
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