Antonio Carlos Magalhães completa 10 anos de morto no próximo dia 20 de julho. Naquele ano, porém, a causa da sua morte seria um assassinato preparado para setembro, não fosse a falência múltipla dos órgãos com insuficiência cardíaca que o levou no dia 20/07/07.

Esse fato está no epílogo do livro “ACM e Adriana – uma história de amor, traição e grampo”, que lançarei no futuro (foto abaixo). Eu vou narrar aqui parte dessa história, mas, inicialmente, mostrarei que Antonio Carlos atingiu seu auge exatamente 10 anos antes da sua morte.

Em 1997, aos 69 anos, ACM conquistou a prefeitura de Salvador, última fortaleza da oposição, elegendo Antonio Imbassahy, bem como amealhou 400 prefeitos no interior da Bahia (num universo de 417 municípios) nas eleições de 1996. Ele ainda mandava e desmandava na relação abaixo:

• Governo do Estado
• Assembleia Legislativa
• Tribunal de Contas do Estado
• Tribunal de Contas do Município
• Ministério Público
• Tribunal de Justiça da Bahia
• Exército, Marinha e Aeronáutica
• Universidade Federal da Bahia
• Universidade Católica do Salvador
• Academia de Letras da Bahia
• Instituto Geográfico Histórico da Bahia
• Construtoras e Empreteiras
• Caixa Econômica
• Banco do Brasil
• Banco do Nordeste
• Axé Music
• TV Bahia
• Correio da Bahia
• Jornal A Tarde
• Tribuna da Bahia
• Bahia Hoje
• Shoppings
• Etc, etc, etc...

Não bastasse isso, em janeiro de 1997 foi eleito presidente do Congresso Nacional – seu maior cargo político. Seu filho, Luís Eduardo Magalhães, era o presidente da Câmara Federal, e futuro governador da Bahia, a partir de 1998, não fosse a morte precoce.

Enfim, o domínio era absoluto. Tornou-se oniciente, onipotente e onipresente na terra do Boca do Inferno. Não foi à toa que, ao tomar posse na Prefeitura de Salvador, o então prefeito Antonio Imbassahy demitiu cinco mil servidores públicos numa só canetada.

E o Batalhão de Choque foi para as ruas coibir qualquer tipo de manifestação contra as demissões naquele início de 1997. Até uma passeata de lavandeiras, ocorrida no Ogunjá, ele reprimiu com muita porrada, num dos atos mais covardes do seu império.

– “Os jornalistas se renderam ou se venderam. Eu me rendi, afirmava Levi Vasconcelos, orgulhoso de ter só se rendido.

Até opositores da cultura, a exemplo do meu amigo Jorge Portugal, trabalhavam na TV Bahia, da família de ACM. Aliás, até Maria Bethânia saiu do Rio de Janeiro para vir a Salvador receber um prêmio concedido por Antonio Carlos Magalhães.

Bem, foi nesse clima que eu fui a Santo Amaro entrevistar dona Canô, mãe de Caetano, que completaria 90 anos no dia 16 de setembro de 1997. Estive lá nas vésperas da grande festa. Dona Canô me entregou um Oratório inédito que o filho compôs para ela nos anos 70.

Eu publiquei o Oratório no jornal A Tarde, fato este que causou um ódio insano em Suzana Varjão, editora do Caderno 2. Ela queria publicar o Oratório no Caderno 2, e eu coloquei nas primeiras páginas do jornal. Eu não fui ao aniversário de dona Canô.

Todavia, os jornais mostraram ACM e Waldir Pires lá – o primeiro convidado de dona Canô; o segundo, de Caetano. Na foto, ACM no banco da frente; Waldir, duas cadeiras atrás. Coisas da Bahia. Moqueca da Bahia. A verdade é que ACM algemava até a oposição que lhe faziam na Bahia.

Os rumores fortes eram de que, através de pelegos, ele escolhia até os candidatos da oposição. Enfim,tudo estava perfeito e submisso ao coronel na Bahia. Faltava apenas um pequeno detalhe, qual seja, combinar comigo a participação nessa farra de submissão e corrupção.

Bem, o resto todo mundo já sabe, ou vai voltar a saber quando eu lançar o livro “ACM e Adriana – uma história de amor, traição e grampo”, isto é, como foi que cinco mil reportagens deram fim ao carlismo e, na última sequência das batalhas, destruiu o próprio chefe.

O que ninguém sabe é que, após perder o Judiciário em 2001, a prefeitura de Salvador em 2004 e o governo do Estado em 2006, ACM iria perder a vida numa tocaia. Acontece que, após ser derrotado nas eleições do governo do Estado, em 2006, ACM concedeu uma coletiva "bombástica", no dia 05/01/2007.

Nessa coletiva, ele foi “babado” por toda a imprensa baiana, visto que prometia um "governo paralelo" para arruinar o bêbado Jacques Wagner. Aquilo gerou um ódio insano em pelo menos quatro pessoas – um advogado, dois políticos e um empresário –, que decidiram pôr um fim trágico na trajetória do cabeça branca.

Eles me convidaram para um almoço no “Baby Beef”, duas semanas após aquela entrevista, e revelaram-me o plano: ACM seria morto numa tocaia, entre a BR-324 e a cidade de Santo Amaro, quando fosse para a comemoração dos 100 anos de dona Canô, no dia 16/09/2007.

Achei genial a estratégia, mas declinei de participar daquela tramoia. No livro eu narrarei qual seria a minha participação na tocaia, caso aceitasse contribuir com aquela loucura. Comi a bela picanha argentina do Baby Beef, e fui embora, mas dei a minha justificativa:

– Acabei de escrever o livro “ACM e Adriana”, e no epilogo eu narro que ele morrerá em breve por não suportar tantas derrotas consecutivas. O editor Luis Fernando Emediato, da Geração Editorial, acha arriscado essa premonição, mas eu aposto nela.

Quando ACM adoeceu, início de abril de 2007, e passou a frequentar os hospitais de São Paulo, o advogado me telefonou e disse que o plano ainda estava de pé. Olha, ainda bem que ACM foi antes, porque seus opositores eram tão burros, que iriam transformá-lo num mártir com a sua morte naquela tocaia.