1. Acho que o movimento de Doria Jr. na direção do DEM, ACM Neto e o Nordeste, é fundamental para ele postular a candidatura tucana à presidência em 2018. Sem os democratas (sic), ex-PFL, nenhum candidato tucano terá penetração relevante no Nordeste.

2. Veio a Bahia, levou um ovo na testa. Mas veio e fará da ovada um fato político, tentando tirar partido. Mas veio, levou um ovo na testa e sai com a sensação que qualquer campanha por aqui será muito dura e desgastante. Se candidato, desde já ficou sabendo não terá vida fácil nem na Bahia, nem em Pernambuco, nem no Ceará. Muito menos pelo interior profundo do país. Dureza.

3. Por que Doria Jr.? Porque muitos segmentos do empresariado, da grande mídia antipetista e das forças conservadoras sabem que Alckmin, se ganhar a indicação dos tucanos - o que é mais provável -, terá chances muito diminutas se tiver que enfrentar Lula. Se Lula estiver fora do páreo, afastado pelo TRF-4 apoiado na farsa montada por Curitiba, Alckmin será um candidato forte.

4. Forte quer dizer eleito? Não. Porque o desgaste do PSDB/tucanos é muito grande e o eleitorado poderá optar por Marina Silva, conduzindo uma ampla coligação anti-tucanos. Marina, uma candidata muito fraca politicamente, tem também simpatias entre a elite da banca paulistana, entre empresários jovens e abonados e terá um discurso ecológico e caprichado podendo atingir a juventude e a classe média urbana.

5. Ou seja, mesmo com Lula fora, Alckmin - que representa o velho PSDB, do desgaste, da corrupção - que aparecerá como candidato forte num primeiro momento poderá ser derrotado. E a banca propriamente dita, a FIESP, o empresariado de pêso e a grande mídia não confiam em Marina Silva. Confiam nos tucanos: ontem, hoje e sempre. Acham Marina frágil. E a temem pela sua religiosidade e pelo conservadorismo.

6. Lula será impedido pelo TRF-4 de se candidatar? É o mais provável. Talvez o tribunal faça uma graça, já que o processo é farsesco mesmo. Condenando Lula, atendendo em parte a sentença de 1° grau - livrando Dr. Moro do vexame -, mas reduzindo a pena dele para menos de dois anos. Fica no regime aberto, não irá preso, mas será impedido de se candidatar em 2018.

7. Caso Lula seja absolvido no TRF-4, ou não julgado a tempo de se candidatar - difícil mas não impossível -, já que a sentença do Dr. Moro é de fazer corar até jurista vagabundo, a refrega eleitoral deverá ser polarizada entre ele e Doria.

8. Lula x Doria em 2018 seria o cenário menos artificial. Ambos são figuras de convergência entre as duas grandes vertentes políticas presentes no país: a centro-esquerda desenvolvimentista, que possui um programa mínimo de distribuição de renda e alguma aspiração a introduzir no país um estado que promova políticas sociais produtivas; e a centro-direita liberal, que possui um programa de redução do estado, privatizações generalizadas e minimização do papel do estado nas políticas de bem-estar social.

9. A chance de Lula não ser condenado pelo TRF-4 e ser candidato aumentará na proporção exata que seus índices de popularidade crescerem. Por isso está corretíssimo o movimento que ele está fazendo de percorrer o país. Apenas uma forte comoção popular poderá deter a farsa judiciária. Talvez não seja suficiente, mas é o que deve ser feito.

10. As chances de Doria ser candidato da coligação da centro-direita dependem do crescimento de Lula, da sua legitimação no PSDB - e terá que atropelar Alckmin, FHC, Serra e Goldman -, da sua costura com o PMDB e DEM - mais fácil - e com o PSB e o PPS - mais difícil, pois estes poderão apoiar Marina Silva

Cláudio Guedes é professor e empresário

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