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Dilma já está “vingada” do ódio alheio! Por Marconi De Souza Reis
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Dom, 19 de Novembro de 2017 17:52

Marconi_de_Souza2O professor Wilson Gomes, um dos melhores pensadores da Universidade Federal da Bahia, escreveu na semana retrasada um texto em que critica duas questões de filosofia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Eu li o texto por meio do compartilhamento de Carneiro Arendt, que é uma amiga nossa comum nessa rede social.

Prometi a ela que, em breve, iria escrever algo sobre a crítica do professor. No feriado da última quarta-feira, 15/11/17, decidi então reler o texto de Wilson. Mais do que isso, fui ao mural do professor ver os comentários no “post”, e, para minha surpresa, deparei-me com outra publicação que tem muito a ver com a crítica que ele faz ao ENEM.

Nesse segundo texto, o professor critica a reação de dois ex-alunos da Faculdade de Comunicação e Jornalismo da Ufba – Pérsio e Priscila –, durante o embate violento que houve lá no campus da universidade no dia 13 de novembro de 2017, entre esquerda e direita, em razão da exibição de um filme de Olavo de Carvalho.

Com relação ao ENEM, o professor Wilson Gomes afirma que na prova há duas questões de filosofia que levam o estudante “a odiar a disciplina ou a considerá-la absolutamente inútil, abstrata e impenetrável”, ou seja, o método equivocado aplicado no exame funciona como um expurgo ao pensamento, à reflexão filosófica.

No texto sobre o filme de Olavo de Carvalho, o professor Wilson Gomes diz que os dois protagonistas do vídeo – Pérsio e Priscila – foram seus alunos, mas que, posteriormente, revelaram-se figuras irreconhecíveis, de ultradireita, propagadoras do ódio, da violência e da intolerância em geral (veja o vídeo abaixo para melhor entender o barraco).

Inicialmente, quero destacar dois fatos engraçados nesse vídeo. Primeiro, essa tal de Priscila, que eu não conhecia, lembra fisicamente a minha esposa, isto é, tem a cabeça arredondada, enluarada, típica de cearense, o que para ela deve ser um desconforto, visto que esses jovens neoliberais têm horror a nordestino, índio e preto.

O outro fato engraçado é que esse tal de Pérsio assemelha-se demais a um médico amigo meu, maconheiro inveterado, muito louco, comunista no passado, mas que hoje, apesar de continuar consumindo diariamente a erva e ainda manter a barba “a la” Guevara, tornou-se um propagador da extrema direita, e se diz eleitor de Jair Bolsonaro. .

Bem, Wilson Gomes está correto nas críticas que faz em ambos os textos. Todavia, é demais sabido que ele próprio expurga alunos da reflexão filosófica em sala de aula, e , consequentemente, ajuda a produzir figuras hediondas, a exemplo do Pérsio e da Priscila. Aliás, não apenas Wilson, mas outros professores da Facom e das universidades federais.

No início dos anos 90, conversando com Monclar Valverde – talvez o melhor professor de filosofia da Ufba –, comentei que eu achava a universidade federal tão dogmática, excludente, arrogante e perpendicular quanto os tribunais de justiça do nosso país, por culpa da supressão imposta por seus cardeais. Ambas as instituições disseminam o ódio.

– Talvez a universidade seja até pior, acrescentou Monclar.

Entendo que esse caráter odioso derive exatamente da diferença entre o “ser pensador” e o “ser professor do pensar”. Monclar é um grande pensador e excelente professor de filosofia, enquanto seus colegas conseguem pensar muito bem – Wilson é, na escrita, até mais contundente do que Monclar –, porém quase nunca instigam a reflexão filosófica nos alunos.

Com efeito, assim como alguém aprende sozinho a tocar violão ou piano, há pessoas que também nascem com o dom para a licenciatura e a oratória. Mas isso é raríssimo, daí o porquê de existirem conservatórios para ensinar as pessoas a tocarem um instrumento musical, bem como escolas direcionadas à formação de oradores e pedagogos (existem até cursos rápidos no Senac).

Ora, é preciso que Wilson Gomes e demais professores das universidades revejam suas metodologias, ou melhor, tenham humildade para aprender um pouco com o pessoal de licenciatura e da oratória, para não continuarem produzindo em série essa escassez de inteligência “persiana” e “prisciliana” – a la “gremlins” –, propagadora do ódio.

E mais: se essas escolas de licenciatura e oratória não aperfeiçoarem seus ofícios, então é preciso ter também humildade para requerer, de forma honesta, a demissão do nobre ministério (sai pela porta da frente). Não esqueçamos que exímios alunos dos conservatórios de música não conseguem ser bons professores.

Fui aluno das cinco áreas da universidade – ciências exatas, biológicas, humanas, artes e letras –, daí que sei avaliar um pouco a fluidez de um professor na disseminação de ideias, como tenho senso crítico para afirmar que, no máximo, eu só ensinaria razoavelmente a matemática, e mesmo assim porque era demais paparicado quando monitor em cursinho pré-vestibular.

Jamais me arriscaria a ser um professor de filosofia, porque haveria um abismo entre o meu pensamento e as minhas habilidades no campo da oratória. Ademais, a filosofia exige, em sala de aula, uma leveza rara, típica dos poetas, além de enorme carisma e despojamento, virtudes que não possuo. O mau professor de filosofia atiça o ódio em sala de aula.

Eu fui aluno de Wilson Gomes – passei com nota quase máxima –, mas vi 95% dos meus colegas serem atirados numa prova de recuperação, e todos eles, sem exceção, odiando a sua metodologia hermética. E o pior: meus colegas eram constrangidos e até humilhados durante as aulas, cujo método, pasme, quase sempre foi de cunho historicista, bem no estilo das tais questões que ele critica no ENEM.

Imagine então aonde chegaria esse ódio produzido e reproduzido a esmo, semestre após semestre, até porque os alunos que lograram êxito e decidiram pela carreira acadêmica naquela faculdade de comunicação, acabaram por imitar seus mestres de outrora, construindo assim uma espécie de fábrica ininterrupta do “apartheid” intelectual.

Uma década depois de sair daquela instituição de ensino, eu retornei lá inúmeras vezes como palestrante – a convite dos professores Vera Martins, Fernando Conceição e Heloísa Sampaio, dentre outros –, e o que percebi entre os alunos é que o ódio só aumentara com relação a alguns mestres e doutores da faculdade de comunicação e jornalismo.

O incrível é que os universitários sempre foram apaixonados pelas ideias progressistas, mesmo quando vindos de famílias conservadoras e retrógradas. Mas, infelizmente, as universidades deste país estão lotadas de doutores cheios de si, excludentes, vaidosos, cuja soberba dissemina ódio, até porque os impede de vislumbrar suas limitações pedagógicas.

Se os intelectuais contemporâneos são harmônicos em afirmar que a USP moldou o pensamento da classe média paulistana – o sociólogo Jessé Souza chega a afirmar, no seu último livro, que essa universidade institucionalizou o pensamento escravocrata em Sampa –, é razoável assegurar que o mesmo ocorrera no resto do país, por equívocos de método pedagógico.

O Brasil está no seu momento mais odioso dos últimos 40 anos, e, sem dúvida, quando a exiguidade reflexiva leva jovens universitários a buscarem amparo em figuras usurpadoras da liberdade de pensamento, a exemplo de Olavo de Carvalho, é porque a universidade em todo o país também contribuiu decisivamente para esse lamentável desfecho.

Quem dissemina o ódio, colhe seus frutos, ou melhor, balança o seu Mateus. Nesse contexto, lembro-me da ex-presidenta Dilma Roussef, uma mulher que, embora içada ao palácio pelo larápio do Lula, manteve-se honesta, com patrimônio digno, sem revelar qualquer sentimento odioso quando perseguida por uma fúria jamais vista neste país.

Mais do que isso: além de não disseminar o ódio, Dilma perdoou seus detratores, o que revela ser uma pessoa de alma nobre. E talvez por isso, ou só por isso, ela hoje esteja “vingada” de toda energia ruim que lhe direcionaram, embora os justos nunca anseiem a vingança – o tempo é que, a curto ou longo prazo, organiza a justiça.

Mas a verdade é que, de lá para cá, Aécio se autodestruiu com propina, Eduardo Cunha foi preso, Geddel, idem, e o presidente Temer jaz humilhado como presidente e homem (testículo bichado). Até a Rede Globo encontra-se em péssimos lençóis, sendo acusada em tribunal ianque de pagar propina a dirigentes de futebol para transmitir as Copas do Mundo de 2026 e 2030.

Aliás, mesmo na raia miúda, Dilma viu o apresentador Bonner ser largado pela mulher – a família desfeita é uma infelicidade sem fim –, e o seu colega William Waack perder o posto de décadas por racismo. Só falta o juiz Sérgio Moro, que divulgou ilegalmente conversa telefônica da então presidenta, receber o troco pelo ódio insano manifestado com relação a essa mulher.

Enquanto isso, Dilma Roussef passou os últimos 15 meses desfilando pela Europa – fez mais de 10 viagens a convite de autoridades para palestras no exterior –, sempre de bom humor, rindo à beça, enfim, devolvendo com flores as pedras que lhe atiraram com ódio, porque, como já dito, ela tem alma rara, sublime, nobre, e isso é o que faz muita falta hoje no Brasil.

Um detalhe muito importante: nos comentários do “post” sobre o filme de Olavo de Carvalho, um tal de Daniel Peres, que também deve ser professor, faz uma pergunta:

– Onde nós erramos, Wilson? Nós que estamos por volta dos 50?

– Pois é, Daniel Peres. Em alguma coisa, fracassamos. Em quê exatamente ainda não sei, respondeu Wilson Gomes.

Esse é um diálogo necessário e alvissareiro, afinal, da mesma forma que é contraditório e nojento exigir honestidade na rede social enquanto se busca um “jeitinho brasileiro” na práxis, não é coerente criticar na virtualidade o sentimento violento em pessoas que, ironicamente, aprenderam a odiar exatamente com esse crítico no mundo real. Ódio não tem partido – é de direita, de esquerda, e até de centro.

Marconi De Souza Reis é Adjovado e Jornalista (Ex?)

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