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Pastor tortura a imprensa por Ernesto Marques
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Seg, 27 de Maio de 2013 15:54

Ernesto_Marques_n2Não me interessa, neste espaço, discutir se o ex-PM e hoje advogado e pastor, Átila Brandão, de fato, torturou o professor Renato Affonso de Carvalho. Não me interessa discutir se o jornalista Emiliano José poderia usar o depoimento de Renato Affonso, firmado em cartório, inclusive, com a indicação de quem o teria torturado, sem ouvir o acusado do bárbaro crime de tortura. Quero discutir a reação do Pastor Átila Brandão em mais uma investida virulenta contra um jornalista no exercício legítimo do mandato de trabalhador da notícia. Emiliano não é o primeiro alvo, e nem foi o último.

Rápido no gatilho desde os tempos em que andava com uma Colt 45 na maleta 007, o ex-tenente da PM alvejou o também jornalista Oldack Miranda. Nessas ações pede indenização de R$ 2 milhões para cada um. Emiliano, porque escreveu, e Oldack, porque publicou o texto, junto com a notícia da queixa-crime de Átila.

Emiliano não foi o primeiro porque anos atrás, quando Átila foi candidato a governador da Bahia, o mesmo expediente foi usado contra o jornalista Samuel Celestino, então presidente da ABI. Em sua coluna no jornal A TARDE, o mais prestigiado articulista político da imprensa local se referiu às ligações do aparelho repressivo na Bahia dos anos de chumbo com o então jovem tenente.

O ex-servo do “Outro”, depois convertido em cristão fervoroso e pregador de rara eloquência, sacou a mesma arma contra Samuel. Ouvi dizer que é bom advogado, com boa carteira de clientes e grande influência na máquina kafkiana do Judiciário. Nas palavras dele, o Fórum Rui Barbosa é (ou era?) um magazine, onde se compra e se vende tudo. Soube até que ganhou causas grandes, com ajuda do “Outro”, informação privilegiada quentinha, vinda lá das profundezas.

A reconhecida desenvoltura na arena jurídica talvez explique ter renunciado ao debate público, usando um direito de resposta imediato que não lhe seria negado por A Tarde nem pela Carta Capital. Partiu logo para ações judiciais que ameaçam os jornalistas com indenizações impagáveis. Mais do que isso: os pedidos de Átila atendidos parcialmente pela juíza Marielza Brandão criam um obstáculo descabido para que essa querela envolvendo duas figuras públicas, seja do pleno conhecimento da sociedade. Ele terminou por criar um fato de repercussão por envolver duas destacadas figuras públicas, e isso É NOTÍCIA!

Ao trocar a Colt 45 pelo seu número de OAB como recurso para resolver diferenças, não substituiu a violência pelo Direito. Optou pela operação violenta do Direito. Mirou num jornalista, mas acertou em cheio toda a imprensa, a quem tortura como corporação profissional, com a ameaça tácita de desferir sua fúria num processo judicialmente violento contra um jornalista que ouse publicar o caso. Não contestou o testemunho de Renato Affonso, simplesmente tenta impedir que a revelações chegassem ao conhecimento público pela imprensa.

Às vésperas do cinquentenário daquela infeliz quartelada que nos impôs 21 anos de arbítrio, com Comissão da Verdade funcionando, qual deve ser a conduta de um jornalista que receba informação como um depoimento firmado em cartório, de uma pessoa respeitável como o professor Renato Affonso? Deve omitir a informação e omitir-se como profissional de imprensa, com medo de uma queixa-crime? Admitir isso é aceitar a autocensura e abrir mão do Jornalismo, da liberdade da imprensa. É admitir a violação do direito à informação – sagrado em qualquer democracia.

A defesa individual de Emiliano está bem cuidada com a solidariedade individual de jornalistas, intelectuais, lideranças políticas e entidades como o Sinjorba e a Associação Bahiana de Imprensa, que cuidam para que o caso tenha a dimensão compatível com tamanho agravo à liberdade de imprensa. Mas entendo que cabe a nós, trabalhadores da notícia, uma ofensiva enfática em defesa das nossas prerrogativas profissionais. Átila fez escola, e há outros jornalistas baianos alvejados da mesma forma por grandes empresários dos setores de construção civil, do entretenimento e da cartolagem do futebol baiano. Isso já passou dos limites.

Como jornalista profissional, radialista e cidadão baiano, não aceito a mordaça que se tenta nos impor. Recoloco o assunto que ganhou dimensão nacional (numa pesquisa rápida, “pastor torturador premonições Yaiá, abre links para mais de 6,5 mil publicações). A acrescento abaixo, o artigo de Emiliano que gerou a queixa-crime para que cada pessoa que ler este texto, possa compreender o assunto e criar seu juízo próprio. Estaria a cometer algum crime?

Quanto às referências à pistola Colt 45, pacto com o “Outro” em troca de poder e fortuna, comércio no Fórum e a ajuda do além para vencer uma causa graúda em Brasília, fico obviamente obrigado a citar a fonte dessas informações algo chocantes: o testemunho do próprio Átila, sobre sua incrível trajetória, até converter-se no advogado poderoso, pastor, reitor da Universidade Batista Brasileira, e cônsul da República do Chipre, paraíso fiscal europeu destino de recursos depositados pelos muitos magazines do mundo. É Átila por ele mesmo:http://www.youtube.com/watch?v=YHBy2vSsBuE

A premonição de Yaiá

 Emiliano José**

...Um calafrio, sensação estranha. Tempos dolorosos. Não vivera iguais nos seus quase cinquenta anos. Filhos presos, tantos amigos presos. Theodomiro, Paulo, quem mais? Tantos. Penso na crueldade dessa gente, quanta maldade. A sensação estranha persistia, como um aviso. Seria de Deus? Bons, os meus filhos eram bons. Marquinhos já solto, na minha memória era setembro de 1971. 
Renato Afonso, no Quartel dos Dendezeiros, transferido do Rio de Janeiro, onde fora preso em fevereiro e perversamente torturado. O corpo já não estava tão estropiado. Não fosse meu marido Orlando, e não estaria vivo. Conseguiu fazer chegar o pedido a dom Eugênio Sales, que não matassem o filho. Dom Eugênio intercedeu, e o salvou.
No Rio, passou por coisas horríveis, tanta tortura que eu nem acreditava que existisse. Tudo me vinha à mente em flashes rápidos, numa velocidade absurda. No meio das lembranças, aquela sensação estranha.Fui muitas vezes aos Dendezeiros, levava bolo pros meninos, dava um pedaço pro coronel Ghetsemany Galdino, que gostava muito do bolo de chocolate. Comandava o quartel. Eu já me afeiçoara aos outros meninos, Tibério, Roriz, também presos políticos.
Nunca gostei de ouvir meus filhos serem chamados de terroristas, nem os amigos deles. Por que tudo aquilo vinha assim, aos borbotões, lembranças de tanta coisa daqueles ásperos tempos? E tudo era acompanhado daquela sensação incômoda, como se algo a chamasse, como se alguma coisa ruim estivesse acontecendo.E de repente, uma iluminação, e a certeza: Renato sofria, precisava dela. Como se ouvisse a voz enérgica de um anjo: que não perdesse tempo, seu filho corre perigo. Estava longe, morava em Nazaré, na Cidade Alta, longe dos Dendezeiros, Cidade Baixa. Orlando não estava em casa.
Peguei um táxi, segui pro quartel. À porta, ninguém me barrou, pois, já era personagem comum. Parecia que o anjo me guiava. Dirigi-me a passos rápidos para uma sala onde tinha certeza que Renato estava. Não sabia como tinha certeza. Tinha. Um sentinela à porta. Quero ver meu filho, quero ver meu filho, sei que ele está aí. Calma, minha senhora. Calma, nada. Preciso vê-lo. O soldado parecia assustado, olhava pra mim, indeciso.
Eu ali segura de meus direitos de mãe. Pediu que eu esperasse, iria entrar, voltaria, me traria uma resposta. O sentinela entrou, voltou, e disse está tudo bem com seu filho, nada de mal vai acontecer com ele. Mas, ele está aí? Está. Então quero vê-lo. Não pode, mas, eu garanto que está tudo bem com ele. Me acalmei um pouco. O anjo parecia aquiescer, mas me disse não arrede pé. E eu soube depois: dentro da sala, Renato já havia apanhado bastante, socos, pontapés, perguntas aos gritos.
Após o Rio de Janeiro, transferido para a Bahia por interferência de Orlando, não sofrera mais torturas. Mas, naquele dia, um sentinela veio buscá-lo. Renato perguntou por que estava sendo retirado da cela. O soldado não sabia. Levado para uma sala, logo depois viu entrar uma equipe de torturadores chefiada por Átila Brandão, que conhecera como agente infiltrado desde a Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, onde estudaram juntos em 1968. 
Átila comandou com ferocidade e gosto a pancadaria inicial, que seria sucedida pelo pau de arara e pelo choque elétrico, equipamentos que a equipe trouxera. Queria informações sobre a passagem dele pelo Paraná, onde estivera como dirigente do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
Como no Rio, Renato, fiel aos seus amigos, se recusava a dizer qualquer coisa. Soube que o soldado entrou, cochichou no ouvido de Átila, e ele, irritado, mandou parar tudo, juntar o pau de arara e o resto, e se retirou. Cessou a tortura. Quando Renato saiu da sala, eu o abracei, perguntei-lhe se estava tudo bem, ele disse sim, mas pediu que avisasse o advogado Jaime Guimarães – queriam voltar a torturá-lo.

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