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Em Defesa da Vida e da Família e contra o politicamente correto...Here we go por Wilson Gomes
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Qua, 29 de Maio de 2013 20:21

Wilson_Gomes2Você escreve num tweet que o papinho de ontem sobre aborto do médico representado por Fagundes, em “Amor à vida”, é “reaça total!”. De fato, está tudo lá do argumento de tia velha: “na hora do bem-bom vocês não pensaram, e agora quem vai pagar o pato é esta criancinha que está dentro de você”.

Bem, eu sempre achei que quando alguém não aceita escalas (ovo, feto, embrião) e salta direto para “criancinha” ou “esta vida dentro de você” 3 segundo depois da fecundação, perde completamente a capacidade de fazer distinções entre vida como fato químico e vida humana.

O resultado é uma sacralização vitalista de processos biológicos que, a ser realmente coerente, deveria considerar a masturbação um ato genocida e a menstruação um assassinato que, ao menos em parte (não engravidou porque não quis), é voluntário. Tenho dificuldade com essa espécie de animismo, não por ser primitivo, que é, mas principalmente por não tolerar o exame e a argumentação racionais. Fechado em dogmas, protegido por crenças e blindado por certezas religiosas que não se fundam na razão, o esteio deste princípio é, claro, antiiluminista, conservador, dogmático. Achei “reaça” até carinhoso.

Mas eis que na sua timeline pipoca um adversário com uma ardilosa e retórica questão: “se ser reaça é defender a vida, que mal há em ser reacionário?”. Há algum tempo, comentando uma das espantosas análises de Rachel Sheherazade, a diva do conservadorismo religioso no telejornalismo nacional, recebi da própria Rachel um sopapo parecido: “Se ser conservadora é defender a família, então eu sou conservadora”. Seguiram-se milhões de retweets por parte do “povo de Deus”, vibrando em “amem, Jesus!” e “toma papuda!”, sendo eu a “papuda” da equação.

Fora as lições de humildade que esta gente me dá, e de que faço tesouro para me tornar uma pessoa melhor (mas hoje não, que é véspera de feriado e o pecado está na agenda!), fiquei pensando que algumas expressões têm o grande poder de explicar mais quem as emprega do que aqueles contra quem são empregadas.

Tenho usado, por exemplo, como detector de pessoas da direita política (a direita enrustida, no armário, que no Brasil só há deste tipo), a seguinte sentença “como todo mundo sabe, não existe mais esse negócio de direita e esquerda”. Minha regra é simples: disse que não tem mais nem direita nem esquerda, é de direita. É barbada. Na verdade, o sujeito queria dizer o seguinte: “bem, gente, eu sou de direita, mas como vocês vão achar feio porque há não muitos anos a direita no Brasil era um monstrengo fascista com as mãos sujas de sangue...”.

É a mesma coisa com “nós defendemos a família” ou “nós somos a favor da vida”. A margem de erro é de apenas 2% - usou uma destas duas frases você é um conservador. Obviamente, o que as sentenças dizem, nada tem a ver com o que se pensa ou sente em relação a família e vida. Vida é um valor bem assentado nas sociedades ocidentais (a vida é quase sempre preferível à morte); e a vida humana, então, está bem protegida nas nossas convicções e nas bases legais do Estado de Direito. Só em fantasias conservadores extremas, e para efeitos meramente retóricos, a vida está sendo ameaçada por moderados e liberais.

A família, por sua vez, como vínculo afetivo e parental, parece também gozar de boa saúde; não apesar de, mas por causa das intensas transformações que atravessa. Quem a estaria atacando? A crise do matrimônio? Os gays? Ora, senhores, aparentemente não há espécie humana mais interessada em casamento e família do que os gays.

Aliás, tenho a impressão de que hoje, só adolescentes românticas de 15 anos e gays gostam com sinceridade de casamentos – não são, portanto, estas as categorias atacantes. Nada! “Eu defendo a família” não significa que a família esteja sendo atacada; significa algo como “Tenho medo de que meu marido ou minha mulher me deixem se ficar muito fácil entrar e sair de casamentos” ou “Eu aqui me matando para frear os meus desejos e vocês colocando a possibilidade de se viver relações gays legítimas só para atazanar o meu juízo e balançar as minhas convicções!”.

Outra coisa é “politicamente correto”. Sempre desconfiei de que quem fala de “politicamente correto” é politicamente estranho. Do “politicamente correto” só se fala mal, já notaram? E já se perguntaram por que? É que esta é uma expressão cunhada pelos conservadores americanos para caricaturar formas verbais destinadas a acolher as lutas por estima social e reconhecimento das minorias políticas. É próprio da cultura liberal tentar encontrar caracterizações e designações para minorias que evitem a consolidação verbal do estigma e do desapreço social, sejam respeitosas do modo como as minorias desejam ser designadas, evitem a cristalização de preconceitos automáticos na compreensão dos outros. A empatia social (pôr-se no lugar do outro) é também política.

Pois bem, os conservadores e preconceituosos encontraram uma expressão para desqualificar todo o esforço de “descondicionamento” verbal voltado à tolerância e ao respeito – “somos perseguidos e oprimidos pela polícia da correção política” dizem por meio desta frase, do mesmo jeito que Feliciano grita que é vítima (não algoz) de “perseguição religiosa” e “cristofobia”. Sim, senhores, é para politicamente canalhas que respeito e consideração é uma deplorável “correção política”. Curiosamente, no Brasil, virou chique dar-se um toque de rebeldia e irreverência e começar ou terminar frases com “acho um saco o politicamente correto”. Sei. Já eu acho chato pra caramba ser politicamente escroto.

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