Itaparica, Bahia & Pasadena, Califórnia (Setembro de 2018) Trimestralmente fazemos a divulgação dos artistas do mundo todo que foram selecionados para a residência artística do Sacatar. Temos a honra de compartilhar com vocês os nomes dos cinco artistas selecionadas que participarão da próxima sessão de residência de oito semanas no Instituto Sacatar, na Ilha de Itaparica, Bahia, Brasil, de 22 de outubro a 17 de dezembro de 2018:

CARA STACEY África do Sul Música Em parceria com o Africa Centre FRED MARTIN França Artes Visuais Artista Retornante 2013 ISA TRIGO Brasil Literatura Artista Convidada RAMINTA SERKSNYTE Lituânia Música Artista Retornante 2010 TATIELE DE SOUZA SILVA Brasil Literatura Ganhadora Edital FUNCEB 2018 Todos os artistas do Sacatar são selecionados por um processo aberto e altamente competitivo. A seleção é realizada por um painel de especialistas e ex-residentes do Sacatar e as inscrições para as residências artísticas estão abertas a pessoas criativas do mundo todo.

Sobre o Sacatar
A Fundação Sacatar foi criada em 2000 como uma organização sem fins lucrativos que tem a finalidade de fornecer a artistas do mundo todo, tempo e espaço físico necessários para criar novos trabalhos dentro de uma comunidade internacional de artistas influenciados pela cultura única da Bahia. Desde 2001, a Fundação já concedeu mais de 360 residências para pessoas de 63 países e tem apoiado diretamente mais de 500 programas comunitários e eventos educacionais e culturais no Brasil e no exterior. Em 2018, 25 artistas ficarão hospedados em quatro sessões de 8 semanas no Instituto Sacatar, na ilha de Itaparica, a cerca de 50 minutos de Salvador, Bahia, Brasil (por ferry-boat ou lancha).

Para informações adicionais, bem como imagens e logomarca desta instituição, por favor visite o site www.sacatar.org
O Instituto Sacatar convida você a visitar nossa sede na ilha de Itaparica e para conhecer os artistas que foram selecionados para participar do programa de residência.

Por favor, agende sua visita pelo email Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo. ou pelo telefone 55 71 3631-1834.

Nem todos os residentes do Sacatar podem remunerar os colaboradores, mas todos dão boas-vindas à oportunidade de se envolver e de aprender com profissionais locais. Por exemplo, através de um dos encontros com a comunidade no início da sessão, uma das residentes do Sacatar, uma artista do hip-hop internacionalmente conhecida, contratou dançarinos locais e também um cinematógrafo local para a realização deste curta-metragem: https://vimeo.com/75072125.

Conheça os artistas
Abaixo, cada artista residente descreve seus objetivos e planos para a residência e diz como espera colaborar com a comunidade local:

CARA STACEY África do Sul Música Em parceria com o Africa Centre carastacey.com
Eu sou uma musicista e compositora sul-africana, mas cresci no reino de eSwatini. Meus elos musicais e de pesquisa estão intimamente ligados a esses lugares. Sou pianista e interpreto vários instrumentos musicais indígenas do sul da África. Venho para o Sacatar continuar meu trabalho de exploração da paisagem, divisões sonoras e improvisações urbano/rurais, e arcos musicais (instrumentos de uma corda, parecido com o berimbau, presente em muitas culturas africanas). O Sacatar e a Bahia são especialmente importantes para o arco musical e as conexões brasileiras com o continente africano, e espero ter muitas conversas sobre esses instrumentos enquanto eu aprendo mais sobre o berimbau a partir de uma perspectiva sul-africana. Espero
escrever novas músicas durante minha residência, mas também conhecer e colaborar com músicos de berimbau e quaisquer outros instrumentistas e artistas interessados em som, arcos musicais ou improvisação.

FRED MARTIN França Artes Visuais Artista Retornante 2013 martinfred.blogspot.com
Ficarei profundamente feliz de voltar a Itaparica, neste lugar incrível e mágico onde passei quatro meses incríveis.
Ainda não terminei de editar as performances que fiz durante a minha residência no Sacatar. O trabalho chamado de "Minha ilha" (uma performance em que passo um dia cavando e criando uma pequena ilha na praia, depois me sentando nela e esperando a maré me engolir) está quase pronta. Agora encontrei a pessoa certa para fazer a música desta peça.
A segunda, sobre a performance de Sísifo (quando, junto com algumas crianças, eu empurrei uma bola gigante feita de fibra vegetal da praia para o centro da cidade, pegando lixo na rua para encher a bola), ainda precisa ser editada.
Esse poderia ser um projeto para realizar em Itaparica... mas, uma vez no Sacatar, quero também me reconectar com a fábrica de tijolos para trabalhar em uma grande escultura de terracota relacionada à paisagem e à história de Itaparica. Para atingir esse objetivo, eu precisaria passar algum tempo convivendo com os talentosos artesãos especializados em grandes esculturas de terracota que conheci na vila de Maragogipinho, no rio Jaguaribe.
Essa pode ser uma direção para o trabalho, mas sei que a energia desta ilha definitivamente continuará me inspirando e me trazendo novos impulsos para minha arte.

ISA TRIGO Brasil Literatura Artista Convidada
Pretendo, durante os dois meses no SACATAR, desenvolver um texto dramático, a ser encenado em Salvador e em Itaparica (esse último a depender das instalações no instituto ou em outro espaço da cidade) como resultado da Residência.
O texto seguirá o formato de auto coreográfico (uma referência ao Mestre Didi) – um produto que inclua canções, movimentos coreográficos, imagens, indicações de movimento e de desenhos.
Sou atriz, diretora, mestra e doutora em artes cênicas, com produção acadêmica e teatral em teatro de máscaras, tendo realizado montagens com inspiração nos tipos e mitos baianos.
Espero, ao fim desses dois meses, também compilar histórias e “estórias” junto ao povo do Axé; a partir da narrativa advinda dos seus participantes, acerca de tramas imaginárias com a personagem das sereias e dos humanos. Tomo também como inspiração o presente de Iemanjá em Ponta de Areia, que frequento, nos últimos dez anos, para enriquecer a criação desse “texto/obra”.
Durante todo o tempo, aprofundarei o referencial teórico metodológico acerca dos mitos e das iconografias de sereias, serpentes marinhas, pescadores e peixes, nesse recorte do mar e de suas marés, que a todos ensina.

RAMINTA SERKSNYTE Lituânia
Música Artista Retornante 2010 mic.lt/serksnyte
Eu sou um compositora e pianista da Lituânia (um país europeu, localizado perto do mar Báltico). Eu fui residente no Sacatar em 2010 e estou muito feliz por estar de volta.
Eu componho obras de quase todos os gêneros e instrumentações: de peças de câmara íntimas à ópera de grande escala. A natureza e vários estados mentais (como meditação, mistério ou expressões dramáticas) são as principais inspirações para minhas composições.
Durante minha residência, planejo trabalhar em dois projetos principais. O primeiro é compor a peça meditativa “Serenity”. Tenho me interessado pela meditação desde os tempos mais jovens e vejo a serenidade e a tranquilidade como um antídoto para o mundo acelerado e estressante de hoje. Outro projeto é fazer os esboços de um concerto para piano com orquestra sinfônica. Por fim, gosto muito de tocar piano e ficaria feliz em fazer apresentações na biblioteca de Itaparica e na residência do Sacatar. Estou ansiosa para compartilhar minha música com o povo da Bahia!

TATIELE DE SOUZA SILVA Brasil Literatura Ganhadora Edital FUNCEB 2018
Utilizar a água como poética está longe de ser uma exclusividade do meu processo criativo. Matilde Matos em “Água – reflexos da Arte na Bahia” escreveu sobre o despertamento que a água provocou em 59 artistas plásticos baianos, mostrando como se dá a importância do elemento no sentido estético da criação, seja pela fluidez, pelos contrastes de luz, pela mudança de cor, sabor e outros aspectos biográficos.
A fenomenologia da fluidez, do diluído e solúvel se encontra também nas literaturas. O sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman discute em suas obras a poética das relações a partir da liquidez. Entre suas obras de destaque, “Amor líquido” se popularizou no Brasil. No livro, Bauman analisa de maneira mais simples e próxima do cotidiano, as relações amorosas e aspectos particulares do que ele chama de “modernidade líquida”. Do ponto de vista das manifestações culturais, a Bahia se celebra com água. O sagrado dos banhos de folha, no 2 de fevereiro ao profano da alta estação nas praias. É sobre
estas tantas influências que pauto o projeto “Travessia – a poesia como rito de passagem”.
Escrevo para não me afogar no que sinto, no que vejo, no que sonho. Escorro pelas palavras e desaguo em forma de poema, de crônica, de historietas que compartilhadas se tornam um oceano de memórias entre pessoas desconhecidas de experiências similares. Neste projeto transponho minha visão de artista visual para narrar visualmente com a escrita literária (poesia) tomando de empréstimo a fluidez da água para falar do amor e das relações afetivas contemporâneas, sem desprezar seus aspectos socioculturais e físicos, isto é, utilizarei o tanto e quantos processos e modelos couberem na pesquisa desde as águas de banho da Ilha de Itaparica até o encontro das águas com o Rio Paraguaçu.
O livro “Travessia” será o meu segundo de poesia e o quarto da carreira. Pensando em fazer um trabalho literário com foco em metodologia e pesquisa, me dediquei no primeiro semestre de 2018 a investigar sobre elementos da natureza que pudessem criar uma metáfora sobre o amor e os relacionamentos, os meios e entremeios, começos e reinícios. A princípio o livro se chamaria ‘’Folhas e verdes e dissecadas’’ relembrando as memórias ancestrais das curandeiras e o processo das folhas desde a semente até o processo de desidratação. No entanto, dentro da experiência de uma relação afetuosa e fluída, a água se mostrou como elemento essencial para desenvolvimento do projeto, uma verdadeira ‘‘Travessia’’. O livro será publicado em formato impresso e de e-book.
Além do livro serão produzidas fotografias para a Mostra Literária de Foto Poemas que será realizada no SESC Santo Antônio de Jesus após a residência literária e terá como tema principal a água. Ao fim da exibição na unidade SESC, a exposição passará por algumas escolas do Recôncavo onde será lançado o livro e haverá a palestra intitulada de “Sociedade, poesia e outras sustentabilidades” mediada para estudantes do Ensino fundamental II e Ensino Médio. Como é meu interesse que o livro produzido seja utilizado também para fins didáticos, uma das demandas dos estudantes era conhecer como se dava o processo de escrita, se havia temática, se havia pesquisa. Neste sentido, todo o processo de construção do livro será documentado em formato de registro e disponibilizado em formato digital (blog) de diário de artista.

Compartilhe: