Aldeia Nagô
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As “meninas” de Jô e o “mensalão” por Geraldo Galindo (*)

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Geraldo_Galindo

Na madrugada do dia 20 de novembro assisti ao Programa do Jô. Já sabia que ele convidaria as “meninas” (Ana Maria Tahan, Cristiana Lobo, Cristina Serra e Lillian Witte Fibe) e trataria do tema das prisões dos petistas condenados na Ação Penal 470.

Imaginava também que tipo de discurso apareceria no debate. Os grandes meios de comunicação do Brasil repetem à exaustão a defesa da liberdade de expresão, da pluralidade, da democracia. Mas a liberdade que propugnam é exclusivamente para a veiculação de suas posições políticas, de oposição sistemática ao governo federal e uma perseguição impiedosa  ao Partido dos Trabalhadores. Neste programa que cito, assim como  todos os demais da Rede Globo, não há direito ao contraditório. As “meninas” do Jô, e o próprio , defendem as mesmas teses, as mesmas idéias, as mesmas opiniões. Para quem se julga defensora da pluraridade e da imparcialidade, a  Globo deveria num programa desses ter no mínimo um dos debatedores com visões diferentes daquele pensamento único de satanizar e criminalizar as esquerdas. Mas não esperemos imparcialidade nem democracia de quem apoiou a ditadura militar e se enriqueceu com os favores dos generais.

Voltando ao programa, o apresentador e as quatro “meninas”  – autênticas representantes de nossa perversa elite que nutre permanente ódio a um governo que melhorou a vida dos mais pobres e isso é inaceitável para essa casta de endinheirados –  usaram mais de uma hora para festejar a prisão de José Dirceu e José Genuíno. O discurso apresentado pelos cinco é o mesmo de sempre: que os dirigentes do PT são corruptos, que assaltararam os cofres públicos e que merecem  punição exemplar. Para eles, Joaquim Barbosa é um herói, que pela primeira vez colocou poderosos na cadeia.  Lillian Witte Fibe  chegou a dizer que a prisão no dia da proclamação da república inaugura uma nova república no Brasil. Essa fala dela me deixa a impressão de que a prisão ilegal dos dirigentes do PT daquela maneira espetacularizada pode ter sido combinada entre a própria Globo e o presidente do STF – um homem  sabidamente vaidoso, vingativo,  presunçoso  e   cujo filho é  empregado da família Marinho.

Durante o programa,  Jô abordava a situação de cada um dos  presos. Quando chegou em Marcos Valério, uma das “meninas”, disse que a situação dele era a pior de todas, pois além da pena do chamado mensalão, ele deverá ainda responder pelo “mensalão mineiro”. Aqui uma curiosidade: Eles nao caracterizam o “mensalão” do PSDB como do partido no qual  votam e fazem campanha, mas como “mineiro”. E mais curioso ainda foi o fato de Jô Soares interromper de imediato o assunto para voltar ao “mensalão petista”,  como se tivesse recebido uma ordem superior para não desviar o foco dos ataques da emissora.

Em apenas um momento houve uma divergência pontual  entre as  felizes “meninas” que tripudiavam à vontade sobre o  PT e o governo, dando gargalhadas  e recebendo aplausos do auditório. Uma delas disse que só tinha uma discordância: o uso de algemas no avião que transportaria os presos. E foi imediatamente rebatida por outra que foi reforçada pelo apresentador, de que era necessário por questão de segurança. E Jô disse que caso não estivessem algemados, algum poderia usar um garfo  para forçar o piloto a desviar o voo  para Cuba.

Se sabe que eminentes personalidades políticas e jurídicas tem feito  críticas duras à condução truculenta e arrogante por parte  de Joaquim Barbosa durante todo o processo do “mensalão”. Umas das críticas foi a a transferência dos presos para Brasília, quando deveriam cumprir as penas nos estados onde residem – e secundariamente foi levantada a questão dos gastos dessas transferências ilegais. Jô e suas “meninas”   só levantaram esse aspecto secundário de todas denúncias dos vícios e atropelamentos da Ação Penal perpetradas pelo já chamado “tirano togado””. E a partir daí, disseram que foram os presos que teriam questionado os tais gastos e passaram a desqualicá-los como ladrões que roubaram milhões dos cofres públicos que estariam preocupados agora com uma pequena despesa. Tudo isso à base de chacotas, gargalhadas – um verdadeiro  linchamento de pessoas sérias e honradas. Esses caluniadores de plantão são os mesmos que não se manifestam, porque submissos e bem assalariados, à gigantesca sonegação fiscal patrocinada pela Vênus Platinada , cujos valores superariam mais de dez “mensalões”.

Quando o presidente Lula disse na Argentina que a mídia no Brasil funciona como um partido político,  ele foi alvo de ataques nos programas da Rede Globo, inclusive por uma das “meninas”. Ele tem  tem razão. Na verdade, a grande mídia brasileira é uma extensão do conglomerado (PSDB, DEM-PPS). É angustiante para os patriotas e democratas que lutaram contra a ditatura conviver com esse tipo de situação – ver o povo brasileiro assistir, sem direito ao contraditório,  a grande imprensa mentir acintosamente e ainda festejar com deboches e provocações a prisão política daqueles que dedicaram suas vidas a luta pela melhoria da qualidade de vida de nosso sofrido povo. E essa angústia é maior ainda quando sabemos que passados 10 anos de governos petistas, nada, rigorosamente nada, foi feito para enfrentar o monopólio dos barões da mídia. Dessa maneira, a afirmação de Lula, correta, soa evasiva na medida em que o próprio e a presidente Dilma não se empenharam ou não tiveram coragem de   enfrentar uma questão de fundamental importânca para que tenhamos uma verdadeira democracia.

(*) Geraldo Galindo é da direção estadual do PCdoB-Ba

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