A atuação de Anísio Teixeira na cultura por João Augusto de Lima Rocha
O lançamento do livro “Anísio Teixeira e a Cultura” será realizado, na Bahia, no dia 10 de dezembro próximo, na Reitoria da UFBA.
Trata-se de uma publicação conjunta da UFBA e da UnB que examina a atuação de nosso mais importante educador no campo da cultura. Sua ação cultural foi assim sintetizada pelo filólogo Antonio Houaiss que, ainda jovem estudante, na Escola de Comércio Amaro Cavalcante, no Rio de Janeiro, travou conhecimento com o educador, que dirigia a educação do então Distrito Federal-Rio de Janeiro, no início da década de 1930. Diz Houaiss:
“Anísio Teixeira foi um profeta do saber, da cultura e da transformação social, sobretudo da transformação social. Foi um dos homens mais cultos deste país, mas ao mesmo tempo o menos exibicionista dos homens cultos deste país. Lembrem-se de que, num momento de ostracismo, a prática que ele desenvolveu foi a de um minerador, de um exportador, de um comerciante e de um tradutor de obras que ele achava relevantes.”
Organizou a primeira universidade brasileira com atividades de pesquisa em todas as áreas, a saber, a Universidade do Distrito Federal (UDF), instalada em 1935, no Rio de Janeiro. Enquanto presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entre 1955 e 1959, foi ele quem reuniu a intelectualidade brasileira para organizar o projeto e a construção da Universidade de Brasília (UnB), instalada em 1962. Na UDF, contou com o apoio de Afrânio Peixoto, que foi o primeiro reitor da UDF, extinta em 1939. E na UnB, sobre a qual se abateu a ira do regime militar, em 1964, contou com a colaboração de Darcy Ribeiro. Em conseqüência da ação militar, a maior parte dos professores se demitiu da UnB, no final de 1965.
Sobre a relação entre cultura e universidade, afirma Anísio:
“Com efeito, a história de todos os países que floresceram e se desenvolveram é a história da sua cultura, e a história da sua cultura é, hoje, a história das suas universidades. Sempre a humanidade viveu utilizando a experiência do passado, mas essa experiência atingiu, nos tempos modernos, tamanha complexidade intelectual, que sem a existência das universidades grande parte dela se teria perdido e a outra parte nem chegaria a ser formulada.”
Particularmente sobre a realidade brasileira, lamenta:
“A cultura brasileira se ressente, sobretudo, da falta de quadros regulares para a sua formação. Em países de tradição universitária, a cultura une, solidariza e coordena o pensamento e a ação. No Brasil a cultura isola, diferencia , separa. E isto por quê? Porque os processos para adquiri-la são pessoais e tão diversos, os esforços para desenvolvê-la tão hostilizados e tão difíceis, que o homem culto, à medida que se cultiva, mais se desenraíza, mais se afasta do meio comum, e mais se afirma nos exclusivismos e particularismos de sua luta pessoal pelo saber.”
De 1947-51, na condição de Secretário de Educação e Saúde da Bahia, sua atuação foi muito relevante na valorização da arte e da arquitetura moderna no estado, ao incentivar novos talentos e, particularmente, contratar jovens artistas para executar os painéis murais da Escola Parque e promover a realização do I Salão Baiano de Belas Artes, realizado em 1949. Dele estiveram próximos Mário Cravo Jr., Carlos Bastos, Caribé, Maria Célia, Carlos Magano, Jenner Augusto e Diógenes Rebouças.
Destaca-se sua grande capacidade de atrair personalidades da área cultural para auxiliá-lo, nos inúmeros projetos que executou. Assim, quando ocupou o cargo de Secretário de Educação e Cultura do Distrito Federal, foi o responsável pela participação de Heitor Villa-Lobos no trabalho de educação musical, desenvolvido de 1932 a 1935. Com Roquette Pinto, deu os primeiros passos na Educação a Distância, pelo rádio, na mesma época. Mais tarde, levou Humberto Mauro para direção do Departamento de Cinema Educativo do MEC e incentivou Augusto Rodrigues na criação da Escolinha de Arte do Brasil.
Neste momento, aguardamos a palavra Comissão Nacional da Verdade, que investiga as circunstâncias de sua morte trágica e misteriosa, em março de 1971.