A Bahia tem jeito. Por Manno Góes
Aqui tem mais poetas, mais artistas do que pedras portuguesas. Para cada dia um santo, um manto, uma cor. Para cada esquina um canto. A Bahia tem um jeito…
Por aqui atracaram navios negreiros, lotados de dor e pranto, aportando o mais cruel ato humano: a escravidão. Mas, como flores em asfalto, floresceu a miscigenação.
Aqui tem Olodum. E aqui, a revolta dos malês, povo culto, bonito e negro, se faz lembrar. Aqui se deu a última batalha pela independência do Brasil. Aqui, se descobriu o Brasil.
Aqui chamaram Jesus de Oxalá e Nossa Senhora virou Iemanjá. O sincretismo e a tolerância religiosa prevaleceram. Para o bem do amor, do altar, do patuá, da fé.
A Bahia tem um jeito…
Aqui Castro Alves recitou poesias e Rui Barbosa quebrou tabus.
Aqui, Jorge Amado e Zélia namoraram e descansam sob a sombra de uma mangueira.
Aqui, Vinícius passou tardes sem fim em Itapuã, Janis Joplin se apaixonou e Mike Jagger fez serestas sentado em escadarias.
Aqui tem as pernas de Ivete, o sotaque de Margareth e o talento de Brown.
Aqui se fala oxente, se canta Chame Gente, tem planta e semente, e raiz de todo bem.
A Bahia tem um jeito…
Mas a Bahia tem jeito? Porque aqui, lugar de tantos sabores, aromas e cores, se destroem monumentos e jogam lixo no chão, enquanto jogam latas de cerveja no mar e mijam em qualquer lugar. Mas nosso coração baiano nos faz crer que, apesar dos engarrafamentos e das ruas sem planejamento, apesar da miséria e do mau comportamento, um dia tudo há de melhorar.
Pois a Bahia é daqueles lugares que tem uma certa magia irresistível, inesquecível. Um ponto de encontro entre o real e o invisível. A dança, a gastronomia, a riqueza de elementos culturais autênticos, a disposição para misturar.
Um verão na Bahia nunca passará despercebido.
Tem sempre algo curioso para conhecer, para ver, para provar.
Apesar da nossa cultura BAVI, de um tantinho de pensamento chinfrim, que enclausura talentos, matando aos poucos nosso próprio caldeirão de criatividade, atirando no pé da nossa riqueza artística e espontaneidade, tirando o oxigênio do nosso próprio carnaval.
Mas o novo sempre há de surgir por aqui. Eis Saulo, pra não me deixar mentir. Eis a Baiana System, Adão Negro e Mametto. Márcia Castro, Maglore, Mini-trio, Jau.
E tem também os eternos, desses não preciso falar.
Conhecer a Bahia não é só visitar Salvador. A Bahia de Porto Seguro, Taipu, Barra Grande, Morro de São Paulo, Praia do Forte, Imbassaí, Chapada, Mucugê também espera por você.
Prepare a mochila, aproveite os temperos, saboreie os momentos.
Pode estar no paladar ou no jeito da gente falar. Pode estar no vento que balança o cabelo e o coqueiro ou na brisa que vem lá do mar. Pode estar em qualquer canto, em qualquer lugar.
A Bahia tem um jeito…
Olha o jeito dela dançar.
Aqui tem dendê.
Seja bem-vindo.
Fique Alavontê.”