A Cuba que vimos (III). Por Aécio Pamponet
A liberdade religiosa, ainda contrariando a propaganda americana, é algo perceptível por qualquer pessoa que visite o país.
Por onde andamos, era muito comum ver fotos de Fidel Castro e Che Guevara ao lado de nichos com imagens da igreja católica e até de orixás.
O cubano demonstra uma religiosidade sincrética fervorosa, assim como a do povo brasileiro.
Ouvi diversos depoimentos de que não há, hoje, qualquer conflito das diversas religiões com o governo.
Nos primeiros tempos da Revolução, o que houve foram choques do governo revolucionário com a cúpula da igreja católica que, sobretudo a partir da implantação da reforma agrária, preferiu se colocar em defesa dos latifundiários e do capital americano, que monopolizava o uso da terra, enquanto os trabalhadores do campo não tinham áreas para produzir, vivendo em estado de extrema pobreza e sob condições de trabalho próximas à escravidão.
Apesar do confronto da igreja católica com o governo revolucionário, nunca houve restrições às práticas religiosas, nem se registra uma só ocorrência de igreja fechada pelo Estado.
A luta do governo cubano sempre foi contra a igreja católica como instituição, que, afastando-se dos verdadeiros princípios cristãos, preferiu aliar-se aos poderosos e dominadores.
Antes da Revolução castrista, a concentração de terras era tão imoral que havia propriedades rurais de até 200 mil hectares.
A Reforma Agrária realizada por Fidel estabeleceu o módulo rural máximo de 450 hectares, descontentando profundamente empresas americanas de plantações de bananas e seus parceiros latifundiários cubanos.
Este limite máximo de 450 hectares atingiu inclusive a família do próprio Fidel Castro, cujo pai era um rico proprietário de grandes extensões de terras, na Província de Santiago de Cuba.
Outro fenômeno que merece destaque é o fervor patriótico do povo cubana.
Não se trata de um “patriotismo” oco e ufanista, mas de um orgulho e uma disposição legítimos para enfrentar e resistir ao inimigo externo, sentimentos que nascem do conhecimento da sua própria história, dos avanços conquistados com muita luta, muito sangue e muito sofrimento.
Eles professam, com convicção, o que disse José Martin, herói da Independência:
“Só o conhecimento liberta!”
A defesa da soberania do país é um sentimento que está profundamente arraigada no consciente do povo cubano.
A impressão que nos ficou foi a de que, se decidirem conquistar Cuba, terão que matar a maioria da sua população.
O slogan “Patria ou Muerte”, que se vê espalhado pelo país inteiro, não é uma simples evocação política, é uma opção de vida.
Sempre bom lembrar Frei Beto, figura reverenciada pelos cubanos, quando, com humor e ironia, disse que, se você é rico e capitalista consciente e for à Cuba, vai achar que está no inferno; se você é classe média consumista, ao chegar em Cuba você vai pensar ter chegado ao purgatório; se você é pobre, em Cuba você se sentirá na porta do céu!