Aldeia Nagô
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A Cuba que vimos (IV). Por Aécio Pamponet

3 - 5 minutos de leituraModo Leitura

Cuba, em especial Havana, chama atenção pelo seu rico patrimônio cultural: música, museus, memoriais e, sobretudo, uma belíssima e rica arquitetura, de origem hispânica, com influência árabe.

Belos monumentos, palacetes e casas residenciais nos remetem à história de Cuba numa época de opulência desigual, quando viveu quase 500 anos sob o domínio espanhol e, depois, sob forte influência da elite norte-americana, que tinha o país, especialmente a capital e a cidade de Cienfuegos, como um paraíso para o luxo, a ostentação e o lazer, belos hotéis-cassinos e centros de prostituição para os grã-finos do norte.

Confiscados pela Revolução de 59, essas mansões são, hoje, predominantemente, museus, memoriais, embaixadas e restaurantes de luxo para estimular o turismo de alta renda.

Entretanto, triste é constatar que boa parte deste deslumbrante patrimônio arquitetônico está sendo, gradativamente, transformado em ruínas, pela penúria econômica do Estado cubano.

Belas praças, largas avenidas, parques e bosques, com cobertura vegetal nativa, são outros fatores de embelezamento de Havana.

A música caribenha, disseminada por todos os cantos, é outro traço destacável na sua diversidade cultural .

Seja na Capital, com o tradicional e empolgante espetáculo dos sucessores do Buena Vista Social Clube, ou na bela Trinidad, onde se respira alegria, hospitalidade e o rebolado de homens e mulheres em ritmos contagiantes, misturando nativos e turistas em transe.
Percebe-se, de pronto, a importância existencial da música para um país pobre, isolado e perseguido, mas que não se entregou à tristeza e ao lamento.

Neste e noutros aspectos étnicos e culturais, é difícil não notar a similaridade de Cuba com a nossa Salvador.

Que futuro espera Cuba ?
Essa é uma indagação que está na cabeça de todos os cubanos.

A perplexidade dos cubanos diante dos tempos que virão é a regra. Só uma certeza: não haverá rendição!

Um oficial reformado da Força Aérea, 78 anos, que ajudou a consolidar a Revolução, representa uma corrente de pensamento pouco otimista e explicita sua preocupação:

  1. Quase todos os heróis da “geração Fidel”, já estão mortos ou em final de vida;
  2. Começa a entrar em cena gerações, como a do atual Presidente Miguel Diaz-Canel, que foram educados sob os princípios revolucionários, mas que, apesar de leais e honrados, não tiveram a práxis das lutas revolucionárias e, portanto, não conseguem preencher o vazio das lideranças originais, leia-se: Fidel Castro. “Ele é único e insubstituível!”…
  3. Apesar da qualidade do ensino formal, gratuito e universal, a juventude, que daqui a pouco estará apta a ocupar o poder, vem sendo fortemente condicionada pelos meios modernos de comunicação de massa alienantes (Internet) e atraída pelo canto de sereia do consumismo capitalista, com forte conteúdo egoísta e individualista.
  4. Está posta, assim, uma queda de braço, e ele não acredita na reafirmação e sobrevivência dos princípios socialistas, a menos que haja uma reviravolta na correlação de forças políticas no Mundo, favorecendo Cuba, o que, no momento, não está no horizonte.

Paralelamente, transitam os otimistas: professor universitário e guia turístico por opção e paixão, em Trinidad, Alejandro vibra e teatraliza ao contar, minuciosamente, a história de seu país.

Dotado de uma simpatia contagiante, discorre, didaticamente, desde os tempos do domínio espanhol, passa pela Cuba de Fulgêncio Batista, “balneário“ dos magnatas norte-americanos, acompanha os passos dos barbudos de Sierra Maestra até a vitória final, desenha o modelo básico do novo regime, conta em minúcias a invasão da Baía dos Porcos e a conspiração dos latifundiários inconformados com a Reforma Agrária, relembra os 60 atentados frustrados, organizados pela CIA , contra a vida de Fidel Castro, assinala a luta contra a pobreza extrema e a adesão do povo aos valores revolucionários, até estancar com a pergunta insólita:

  • Qual será o futuro desta nação, constituída por essa gente generosa, guerreira e acolhedora?
  • O socialismo em Cuba é irreversível: “ Pátria ou Muerte”! Nas escolas estão sendo formadas consciências que vão garantir a continuidade da soberania cubana. Nada suplantará essa consciência patriótica que está sendo passada para as novas gerações. Nem mesmo o engodo capitalista de que a felicidade humana está atrelada ao ter e ao consumismo, passada pelo dragão da Internet,livremente utilizada na Ilha!

Só o tempo dirá…
Mas, uma coisa é fato:
Cuba é, hoje, cá nas Américas, o corolário da barbarie do imperialismo americano contemporâneo, que age sem necessidade do uso de bombas ou mísseis, com a intenção de destruir um regime e matar um povo por asfixia econômica.

Repugnante!

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