A menina foi tomada pelo monstro da feiura por Raiça Bomfim *
Quando ainda criança, Menina foi tomada pelo monstro da feiura. Saltitava alegremente pela rua, quando, em sua direção, lançaram um olhar de desprezo e o monstro a encontrou. Passou a ver-se no espelho somente às escondidas, poupando as pessoas do horror de seu reflexo. Mas nunca perdeu a esperança de que, sob aquela imagem, houvesse uma linda moça ansiando que a libertassem da dura fealdade .
Um dia, cansada de esconder-se, Menina foi surpreendida por uma enorme boca aberta que lhe disse: a beleza é um modo de ver, mulher; encontre os olhos que te enxergam e estarás livre. Menina ouviu atenta e traçou no espaço uma linha trêmula pela qual partiu para a longa busca.
Perdeu-se em incontáveis encruzilhadas, e seguiu firmemente arriscando uma estrada ou outra, seguindo o rastro dos olhos daquele auspício. Ao fim de cada estrada, chegava a vislumbrá-los, mas logo os perdia de vista outra vez.
Encontrou coisas incríveis no caminho, e essas coisas foram, aos poucos, acendendo diversas formas dentro de si. Finalmente começava a achar-se bela, quando reparou num pequenino espelho esquecido num canto, e quis mirar-se nele. Reconheceu seu rosto, mas os olhos não eram os mesmos: eram os olhos vivos e enormes de sua tenra infância. Olhou mais fundo, assombrada, até que a pepita negra que brilhava naquelas órbitas saltou em sua direção e rachou o vidro por dentro. A imagem de Menina ficou espalhada pelo o espaço, em infinitos pedaços, já não podia ver-se por inteira num só reflexo e saber se estava bonita ou feia. E seus contornos se dissolveram junto com a imagem: não sabia mais onde começava, onde terminava; tinha perdido as fronteiras.
Aturdida, Menina procurou um horizonte e viu-se espelhada por todo lado, até a linha onde o sol nascia. Era lindíssimo aquele dia e, dentro dele, ela via-se refletida. Soube então que estava livre. E era tão rica de formas sua liberdade, que até a feiura despiu-se de seus monstros e partiu alegremente pela vastidão de Menina.
. Saltitava alegremente pela rua, quando, em sua direção, lançaram um olhar de desprezo e o monstro a encontrou. Passou a ver-se no espelho somente às escondidas, poupando as pessoas do horror de seu reflexo. Mas nunca perdeu a esperança de que, sob aquela imagem, houvesse uma linda moça ansiando que a libertassem da dura fealdade .
Um dia, cansada de esconder-se, Menina foi surpreendida por uma enorme boca aberta que lhe disse: a beleza é um modo de ver, mulher; encontre os olhos que te enxergam e estarás livre. Menina ouviu atenta e traçou no espaço uma linha trêmula pela qual partiu para a longa busca.
Perdeu-se em incontáveis encruzilhadas, e seguiu firmemente arriscando uma estrada ou outra, seguindo o rastro dos olhos daquele auspício. Ao fim de cada estrada, chegava a vislumbrá-los, mas logo os perdia de vista outra vez.
Encontrou coisas incríveis no caminho, e essas coisas foram, aos poucos, acendendo diversas formas dentro de si. Finalmente começava a achar-se bela, quando reparou num pequenino espelho esquecido num canto, e quis mirar-se nele. Reconheceu seu rosto, mas os olhos não eram os mesmos: eram os olhos vivos e enormes de sua tenra infância. Olhou mais fundo, assombrada, até que a pepita negra que brilhava naquelas órbitas saltou em sua direção e rachou o vidro por dentro. A imagem de Menina ficou espalhada pelo o espaço, em infinitos pedaços, já não podia ver-se por inteira num só reflexo e saber se estava bonita ou feia. E seus contornos se dissolveram junto com a imagem: não sabia mais onde começava, onde terminava; tinha perdido as fronteiras.
Aturdida, Menina procurou um horizonte e viu-se espelhada por todo lado, até a linha onde o sol nascia. Era lindíssimo aquele dia e, dentro dele, ela via-se refletida. Soube então que estava livre. E era tão rica de formas sua liberdade, que até a feiura despiu-se de seus monstros e partiu alegremente pela vastidão de Menina.
* Ariz, poeta e escritora