Aldeia Nagô
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A segunda corda. Por Andrezão Simões

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Andrezao-Simoes

Saulo Fernandes não baixou somente a corda que separava pessoas, a dos blocos. Baixou a segunda corda, a que “imprensava” pessoas também. A primeira dispensa comentários, mas a segunda corda, feita pela imprensa ao longo do desfile passou dos limites.

Cada dia interfere mais, com produções de entretenimento de quinta categoria e interferências da pior espécie, egóicas, sem conteúdo e sem nenhuma graça. E o povo lá, literalmente “imprensado”.

Essa corda imprensa mentes. Tem um efeito de apoplexia. Saulo não deixou de ser cordial com as pessoas investidas do poder de imprensa, nem de ser grato, nem rude, apenas baixou a corda.

Os artistas e agremiações começaram, por razões diversas, a baixarem a primeira corda. Neste carnaval vê-se muito mais pessoas artistas tocando para pessoas foliãs.

Os artistas e veículos precisam baixar a segunda corda. Há uma melhora, em todos os sentidos, na cobertura das tvs, mais substância, qualidade técnica e estética, gente boa com microfone na mão, daqui e de fora, cada um com sua linha editorial e institucional.

Não se baixa corda com decreto. Se baixa corda com atitude, consciência e respeito. Não adianta proibir a imprensa de colocar suas caixas para fora dos praticáveis, nem também de falar, de diversas formas, com os artistas e vice versa.

Carnaval não é só uma cobertura jornalística. É uma cobertura de diversão, entretenimento e também jornalismo. É aí que a criatividade de cada veículo é fundamental, mas quando não se percebe “a corda” imaginária, que imprensa e paralisa o espírito carnavalesco das pessoas, se passa do limite dos respeitos.

Não se pode proibir o artista de querer estar “bem na fita”, pois além das pessoas público que estão na rua, existem milhares de outras nos lares de todo o mundo, através dos veículos e redes sociais.

Cada artista busca seu melhor, sua melhor performance, sua melhor música, seu melhor palavreado, sua melhor possibilidade de ser visto, pelos daqui e pelos dos mais variados lugares. No meio disso está o contexto e a consciência do que se é e do que se faz.

Sem entrar no mérito do que se mostra e do que se quer mostrar, o desfile sofre. Não se está em estúdios privados, ou em matérias especiais de tv, se está em um desfile de carnaval público. Quando há a inversão de onde se está, a corda imprensa.

Carnaval é música. É expressão. É canção. É deixar desfilar, deixar fluir para todos, o espírito do carnaval, da alegria, do brincar e não do umbigo de quem tem o poder do microfone, de um lado ou do outro.

Está na mão dos artistas e dos veículos baixarem a segunda corda. Para que a liberdade de brincar, não seja paralisada pela de mostrar.

Foto de Andrezão Simões.
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